Anarquistas, graças a Deus - Zélia Gattai
Anarquistas,
graças a Deus é um livro memorialista da escritora Zélia Gattai.
A família da autora veio para o Brasil a convite de Dom Pedro II para fundar uma
colônia anarquista no País. Sim, isso mesmo, anarquismo oficializado
pelo Estado. Esse parece um dos projetos
mais absurdos que já me contaram. No meio da execução dos planos, foi declarada
a República e a situação política mudou. Mesmo assim, os avós da autora ainda
fundaram a Colônia
Cecília, no Paraná. Passaram por várias dificuldades, faliram e vieram para
São Paulo.
O livro começa com as memórias de
infância da autora. O pai, mecânico e apaixonado por automobilismo, a mãe, dona
de casa, e uma penca de filhos para cuidar. Zélia é a mais nova. Eles se mudam
para Alameda Santos, na época, um bairro residencial, do lado da Avenida
Paulista. Os pais continuam um pouco idealistas, propagando as ideias anarquistas
dos avós.
A leitura ensina muito sobre
História do Brasil e como era a vida dos imigrantes. Um fato histórico, que nunca
estudei na escola, mas já encontrei referências em três livros é a Revolução de 1924.
O relato de Zélia é o mais profundo, porque, como sua família morava em São
Paulo, ela viu em primeira pessoa os conflitos. Houve barricadas na frente da
casa de uma tia e troca de tiros. Seu pai foi resgatar os parentes no Brás.
Depois, a família da autora foi assaltada pelos revolucionários. No final, eles
tiveram que ser resgatados por um cliente que morava no Jardim Europa. Todos
passaram por privações.
A Revolução de 1924 foi simplesmente esquecida
dos livros de História. Tanto é que ela também é conhecida como a Revolução Esquecida. Outro livro que se passa no mesmo período
histórico é O Professor Jeremias de Léo Vaz. Ele menciona a revolução, mas
conta da perspectiva da aristocracia. Zélia conta da perspectiva da classe
média urbana. É o primeiro momento que me dei conta que pessoas (de carne e
osso) realmente morreram e passaram fome na Revolução de 1924. Outro livro que cita ex-revolucionários de
1924 é Garimpos do Mato Grosso do jornalista Hermano Ribeiro da Silva.
Livros que também mencionam a Revolução de 1924. |
Uma coisa tocante no livro Anarquistas, graças a Deus é a
solidariedade das pessoas. Em vários momentos de crise, a família recebe apoio
de amigos, vizinhos e até desconhecidos. Dá para se emocionar lendo.
Anarquistas,
graças a Deus é um livro que começa fraco, depois vai se
desenvolvendo até atingir uma fluidez interessante. Vale a pena ser lido por
todos que se interessam por Literatura Brasileira e História. Ele deveria ser
cobrado nas escolas. Infelizmente, nenhuma das minhas professoras nunca o
mencionou.
Anarquistas,
graças a Deus faz parte do Desafio Mulheres da Academia
Brasileira de Letras, assim como:
O
Quinze - Rachel de Queiroz
Tropical
Sol da Liberdade - Ana Maria Machado
Bom
fim de semana a todos!
Boas
leituras!
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