A SIMETRIA OCULTA DO AMOR - BERT HELLINGER

Bert Hellinger é um psicoterapeuta alemão, nascido em 1925, e criador da Psicoterapia Sistêmica, também conhecida como Constelações Familiares.  Bert nasceu em uma família católica, aos 10 anos, tornou-se seminarista, aos 17, alistou-se no exército nazista, aos 20, foi preso no front da Bélgica. Após a guerra, foi libertado e tornou-se padre. Atuou principalmente na África do Sul, por cerca de duas décadas. Lá fez seu primeiro curso superior em Artes.

Capa da 6ª edição de 2006.

Ao regressar para Alemanha no final da década de 60, passou a interessar-se por psicologia e psicanálise. Abandonou o sacerdócio e passou a dedicar-se ao seu método de psicoterapia sistêmica. Casou-se primeiramente com a também psicoterapeuta Herta. Depois divorciou-se dela e casou-se com uma de suas alunas Maria Sophie, com quem trabalha até hoje promovendo cursos e seminários. Ele é um terapeuta alinhado a valores tradicionais, que prega a união entre homem e mulher para a geração de filhos, paradoxalmente nenhuma biografia dele fala que ele teve filhos com nenhuma de suas esposas.

A Psicoterapia Sistêmica, no Brasil, conhecida como Constelação Familiar, é uma técnica praticada por grupos terapêuticos do espiritismo kardecistas. Apenas com a leitura do livro A Simetria Oculta do Amor, foi possível entender que a prática não tem nada de espiritual ou espiritualista. Os espíritas apenas incorporaram essa ferramenta às suas práticas, mas ela pode ser usada em qualquer outro contexto de outras religiões ou ateus e agnósticos. O criador nunca escreveu um livro sobre essa prática. Ele promove seminários para ensiná-la e praticá-la. O livro A Simetria Oculta do Amor foi escrito pelos seguidores de Bert, os também psicoterapeutas Gunthard Weber e Hunter Beaumont, com o consentimento de Bert. O livro é composto de trechos de práticas, entrevistas com o autor e até pequenos contos e poemas ilustrativos.

Aparentemente o autor acredita que todos estamos envolvidos dentro de um contexto sistêmico. Sua técnica propõe um tipo de “encenação” das pessoas que compõem esse sistema (normalmente, pai, mãe, irmãos, cônjuges etc.). A partir dessas “encenações”, conhecidas pelo nome de “constelações” é possível propor soluções de cura e libertação para os problemas de pacientes. Eu nunca participei de uma dessas seções terapêuticas, mas conheço relatos fidedignos de pessoas que foram curadas por meio delas. Então, procuro manter a minha mente aberta, se fizer bem a uma única pessoa na Terra, está valendo a pena. Mas a leitura do livro, em si, é chocante. Tem muita coisa boa, mas tem muita coisa que vai diretamente contra os meus princípios, por exemplo, que a pedofilia só acontece porque a mãe da criança deseja e permite que criança seja abusada. Para mim, isso ultrapassou todos os limites do plausível ou aceitável. Embora eu concorde que o método que a psicologia atual aborda o problema, também não seja o melhor do ponto de vista da recuperação da criança.

Transcrevo abaixo alguns trechos que, para mim, fizeram sentido:

“Se observarmos cuidadosamente o que as pessoas fazem para ter uma consciência inocente ou culpada, perceberemos que a consciência é o que pensamos que é. Perceberemos que:
·        Uma consciência inocente ou culpada pouco tem a ver com o bem ou mal; as piores atrocidades e injustiças são cometidas sem peso de consciência, ao passo que nos sentimos extremamente culpados ao fazer o bem quando isso não condiz com o que os outros esperam de nós. Chamamos de consciência pessoal aquela que achamos culpada ou inocente.
·        Nossa consciência pessoal tem diferentes padrões, um para cada tipo de relacionamento: um padrão para o relacionamento com o pai, outro para o relacionamento com a mãe, um para a igreja, outro para o trabalho, ou seja, um para cada grupo que pertencemos.
·        Além da consciência pessoal, estamos sujeitos também a uma consciência sistêmica. Não sentimos nem ouvimos essa consciência, mas notamos seus efeitos quando o dano passa de uma geração para outra. Esta consciência sistêmica invisível, sua dinâmica e as ordens da Simetria oculta do amor constituem o tema básico deste livro.
·        Mas, além da consciência pessoal que sentimos e da consciência sistêmica, que opera em nós imperceptivelmente, há a terceira que nos guia rumo à totalidade suprema. Seguir essa terceira consciência exige grande esforço, talvez mesmo um esforço espiritual, pois ela nos afasta dos ditames de nossa família, religião, cultura e identidade pessoal. Exige, caso a amemos, que deixemos para trás tudo o que conseguimos aprender, para seguir a Consciência da Totalidade Suprema. Essa consciência é inefável e misteriosa, e não se curva às leis das consciências pessoal e sistêmica, que conhecemos mais intimamente.”


Em todos os nossos relacionamentos, as necessidades fundamentais atuam umas sobre as outras de maneira complexa:
1.     A necessidade de pertencer, isto é, de vinculação;
2.     A necessidade de preservar o equilíbrio entre o dar e o receber;
3.     A necessidade de segurança proporcionada pela convenção e previsibilidade sociais, isto é, a necessidade de ordem.”



Pergunta: SOU SOLTEIRO E VELHO DEMAIS PARA TER UM FILHO. SINTO-ME EXCLUÍDO E DES VALORIZADO PELO O QUE O SENHOR ESTÁ DIZENDO. NÃO HAVERÁ LUGAR PARA PESSOAS COMO EU NA SIMETRIA QUE DESCREVE?

Imagem retirada do site PixaBay.

Hellinger:Solteiros e casais sem filhos obviamente não estão excluídos da possibilidade de encontrar o amor e sentido em suas vidas. Há, porém, certos problemas que precisam enfrentar e resolver. Como você deve saber por experiência própria, suportar a solidão e encontrar sentido na vida pode ser muito doloroso para uma pessoa solteira e sem filhos. Uma situação realmente difícil. Meu interesse é descobrir o que as pessoas, nessas circunstâncias, podem fazer a fim de resguardar seu potencial para amar e encontrar sentido na vida.

Nas constelações que montamos, vimos que todos partilhamos o destino e a culpa de nossas famílias. Isso significa que sofremos também as consequências d que outros fazem no nosso sistema, assim como o que fazemos os afeta. As pessoas que ficam solteiras por livre escolha também aceitam livremente as consequências dessa escolha e, em geral, não buscam terapia. Entretanto, muitas pessoas não são solteiras porque querem, mas porque foram apanhadas num emaranhado sistêmico, ou estão pagando uma dívida que não fizeram. Por exemplo, o marido atormenta a mulher e ela suporta tudo sem abandoná-lo porque se sente dependente dele. A filha desenvolve uma persistente desconfiança dos homens e da intimidade, e continua solteira. Ficando solteira para ser feliz, tem de organizar a vida de um modo muito diferente do que o faria se fosse casada. De certa maneira, goza mais liberdade que suas amigas casadas, mas também paga um alto preço.  Não pode conhecer a liberdade que, paradoxalmente, advém da união com um parceiro e das responsabilidades de ser mãe.

Sei que isso está fora de moda, mas a verdade é que existem mulheres que se realizam, alcançam o máximo da consciência psicológica e dignidade, quando têm muitos filhos e uma família grande e afetuosa. Ainda se pode vê-las na zona rural de vários países. Elas irradiam um ar de profunda serenidade, de paz e ligação com a vida. Sua grandeza é simples e perfeitamente natural. Nota-se o mesmo em seus maridos, embora em grau menor. As pressões sobre esses pais são enormes; eles tiveram de aprender a renunciar, a ser pacientes e contentar-se com o que a vida oferece.

O caminho para alcançar a realização numa família grande foi bloqueado na nossa cultura, tanto para as mulheres quanto para os homens, mas isso não significa que devemos desmerecê-lo. Uma vez que essa profunda e natural realização humana já não é mais possível, as mulheres precisam recorrer a outras formas de obtê-la, principalmente no trabalho. Há uma ilusão culturalmente gerada que ajuda nisso: a de que ter uma carreira satisfaz mais a mulher do que ficar trancafiada em casa com os filhos. Não acredito que ficar o dia inteiro num escritório, diante do computador, possa ser intrinsicamente mais gratificante do que permanecer em casa com os filhos. Entretanto, creio que a ilusão é necessária para que as mulheres consigam fazer o que a evolução cultural exige delas e ainda encontrar satisfação na vida.

Frequentemente, as mulheres nem sequer têm consciência dessa perda de oportunidade; muitas vezes negam que seja uma perda ou consideram-na sem importância. Com isso, desmerecem o que outrora foi a plenitude da feminilidade e desdenham o que não é mais possível. Ter filhos não é nada; cuidar da casa não é nada; os homens não são nada. Isso faz com que as mulheres se atirem a uma carreira, mas ao preço de perder a ligação com um aspecto fundamental da condição feminina e não o respeitarem mais.

Imagem retirada do PixaBay.

É sempre assim: fazer uma coisa significa não fazer outra. Tudo o que fazemos está cercado do que decidimos evitar - os potenciais desdenhados que permanecem irrealizados. Se o que foi desdenhado é desprezado e desmerecido, o que foi escolhido perde valor e importância. Por outro lado, se respeitarmos e valorizarmos as possibilidades desdenhadas e não-realizadas, o que foi escolhido aumenta de valor.

Há situações em que não é possível nem desejável ter filhos ou manter relacionamentos. Mulheres plenamente conscientes do valor daquilo a que renunciaram e que fazem suas escolhas com lucidez podem resgatar o feminino dessa desvalorização implícita e encontrar realização no seu novo estilo de vida. Os homens, do mesmo modo, podem resgatar o masculino. Respeitar o que foi desdenhado dá um tom diferente às suas vidas. Conquistou-se algo graças à renúncia consciente a possibilidades perdidas.

Quando a perda é aceita e se toma a decisão consciente de amparar a família e o relacionamento sem desvalorizá-los, o que foi desdenhado acrescenta alguma coisa ao que se escolheu. O processo de aceitar perdas opera na alma e pode trazer algo de positivo num nível completamente diverso. Mesmo que permaneça irrealizado, o que foi desdenhado continua a atuar quando o respeitamos e valorizamos.”.

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BOA SEMANA! BOAS LEITURAS!

Comentários

  1. Eu gostaria de olhar na cara desse Bert, pois tinha uma vida feliz e perfeita achei, que pagando iriam me ajudar num meu problema que eu tinha vivido, hj estou enfrentando situações de sofrimento com a saúde com a familia resumindo um sofrimento sem fim e sem solução! Queria perguntar para esse bert Herlingerr qual e a cura e solução trouxe para minha vida senão a infelicidade? E se essa terapia e tão poderosa porque ela NÃO é capaz de ajudar a solucionar o inferno que ela me trouxe!

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  2. Eu gostaria de olhar no rosto de Bert Hellinger e dizer: Muito Obrigado por essa técnica de terapia breve que tão fantasticamente me mostrou a realidade q eu incisistia não ver. Agora possuo ferramentas, recursos e informações importantes para promover minha auto cura meu milagre. Minha vida pertence a mim e todas as mudanças precisam partir de mim e para completar essa técnica tão fantástica, o ho'oponopono chegou e me ajudor em colocar em ordem a desordem q estava em minha vida:EU SINTO MUITO, ME PERDOE, EU TI AMO, SOU GRATA.

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    1. Quê bom que conseguiu enxergar a essencia. Boa caminhada!

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  3. É revoltante ler tanto machismo e misoginia de uma pessoa que se diz terapeuta colocando a mulher num lugar de submissão ao homem em todas as suas obras. Que fala de abuso e estupro como uma falha inconsciente da mulher. Sinceramente, não o que se aproveite desse livro ou do pensamento do autor que se limita a perpetuar o pensamento cristão católico castrador e coloca homem e mulher em papéis sociais estereotipados. Um desserviço, uma violência praticada em brandas palavras.

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