Psicologia Feminina: A Necessidade Neurótica de Amor

 Como foi dito no post sobre Karen Horney, o livro Psicologia Feminina é uma coletânea de artigos e conferências sobre diversos temas da psicologia feminina (frigidez, casamento, tensão pré-menstrual, etc). 

 Escolhi falar sobre o texto intitulado "A Necessidade Neurótica de Amor", que foi uma palestra proferida num evento de psicanálise.

 A Dra. Horney define a necessidade neurótica de amor, como uma neurose de caráter, portanto começa nos primeiros anos de vida e abrange mais ou menos a personalidade total da pessoa. Entenda-se amor, como a capacidade de uma pessoa se dar espontaneamente a alguém, a uma causa ou a uma ideia, em vez de guardar tudo para si de forma egocêntrica.

 A neurose é o aumento que a pessoa tem de ser amada, estimada e reconhecida, ajudada, aconselhada e sustentada, assim como o exagero da sua sensibilidade diante da frustração de tudo isso. No neurótico, essa necessidade de ser amado é exagerada. Enquanto para a pessoa saudável é importante ser amada, honrada e respeitada por aqueles de quem ela gosta ou depende, a necessidade do neurótico é compulsiva e indiscriminada.

 Entre as características de pessoas com esse tipo de neurose, notam-se que: o analisando aceita sacrificar-se para conquistar a aceitação do analista e é muito sensível a tudo que possa desagradar a ele. Outra manifestação conhecida é a supervalorização do amor. Mulheres neuróticas que se sentem infelizes, inseguras, deprimidas se não tiverem alguém que se dedique a elas amando-as, de alguma forma, cuidando delas. Falo também daquelas que o desejo de casar-se tornou-se compulsivo, ainda que sejam incapazes de amar e que suas relações com os homens sejam notoriamente pobres.

 Outras características são: ciúme exagerado, não baseado em fatores racionais, mas insaciável e que exige exclusividade no amor.  Outra característica é a necessidade de amor incondicional ("Você deve me amar, não importa o meu comportamento!"). A necessidade de amor incondicional revela-se também na exigência de serem amados sem nada terem que dar em troca. 

 Nesse ponto a Dra. Horney faz algumas considerações sobre se o desejo de obter benefícios materiais pode ou não aumentar essa necessidade de amor incondicional. Os neuróticos que manifestam maior avidez por coisas materiais sofrem de amargura profunda e desde cedo na vida se convenceram de que o amor não existe. Elas o eliminaram completamente de suas vidas. Se permanecerem no tratamento tempo suficiente, começam a acreditar que a bondade, a amizade e o afeto realmente existem.  Então seu desejo insaciável por coisas materiais desaparece. Vem à tona o desejo sincero de ser amado, a princípio sutil, depois cada vez mais enérgico. Há casos em que se pode observar nitidamente a relação entre desejo insaciável de amor e a cobiça em geral.

 Outra característica: extrema sensibilidade à rejeição. Tudo que percebem como rejeição (real ou imaginária) reagem com ódio intenso. 

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 O neurótico não consegue obter amor no grau e na medida de que precisa, porque : essa necessidade é insaciável, nada é bastante; a pessoa neurótica é incapaz de amar; a pessoa tem um enorme medo de ser rejeitada. O medo da rejeição e a atitude hostil quanto a ela fazem com que a pessoa se retraia cada vez mais. Por favor, não confunda amor com sexualidade.

 A pessoa neurótica não é capaz de amar por causa da angústia e das muitas atitudes hostis que costuma adquirir cedo na vida por ter sido maltratada. Seja devido ao medo ou por causa de hostilidade, é incapaz de se dar, de se entregar. É incapaz de ter verdadeira consideração pelos outros. Dificilmente leva em conta quanto amor, tempo e ajuda a outra pessoa pode ou deseja dar.

 É muito comum que um neurótico viva na ilusão de ser um grande amante e ter enorme capacidade de se dar. A pessoa ocasionalmente faz alguma coisa pelos outros (talvez por ânsia de poder ou medo de não ser aceito pelos outros se não for útil), reforçando a ilusão de que pode amar e realmente ama demais. Não teria fundamento exigir tanto amor dos outros, se a pessoa tivesse consciência de que basicamente não se importa com ninguém.

 Fundamentalmente as pessoas defendem-se de seu enorme medo de viver, da sua angústia de viver, da sua angústia básica, fechando-se e, para se sentir seguras, retraindo-se. O problema em parte é o medo da dependência. A ideia é: não ceda jamais, não faça nada para ninguém, porque isso significa dependência, sendo perigoso.

 Os principais meios que o neurótico usa na tentativa de ser satisfeito são: chamar a atenção para seu próprio amor, apelar para piedade e fazer ameaças.

 O histórico inicial dessas pessoas mostra que não tiveram bastante amor e carinho de suas mães e que, já na infância, estavam ligadas a elas por compulsividade semelhante. Esta necessidade pode ser a manifestação permanente do anseio pelo amor da mãe, que não foi lhe dado livremente no início da vida; ou esta neurose pode ser uma repetição absoluta do apego à mãe.

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 A Dra. Horney se pergunta: Quais os fatores dinâmicos que sustentam, mais tarde, alguma atitude adquirida na infância ou que tornariam impossível abandoná-la?
 A primeira interpretação para responder esta pergunta é de que a necessidade neurótica de amor seja a expressão de traços narcísicos particularmente fortes. Essas pessoas são incapazes de amar os outros. São egocêntricas. 

 Mas a Dra. Horney rebate essa interpretação argumentando que há grande diferença entre o amor a si próprio (narcísico) e a egocentricidade baseada na angústia. Os neuróticos não se relacionam bem consigo mesmo, tratam-se como seus piores inimigos e costumam ter total desprezo por si mesmos. Precisam ser amados para se sentir toleravelmente seguros e levantar o amor-próprio afetado.

 Outra explicação possível, baseada nas ideias de Freud, é o medo de perder o amor. É preciso saber se a necessidade exagerada de amor é um fenômeno libidinal. A Dra. Horney propõe que provavelmente não seja.

 A autora propões que se compreendêssemos o fenômeno da necessidade neurótica de amor em seu todo, veríamos que é uma forma do indivíduo se proteger da angústia.

 As observações em clínicas indicam claramente que o aumento da necessidade de amor surge quando o paciente é pressionado por algum tipo de angústia e que desaparece quando ele compreende esta relação. A indiscriminação na escolha das pessoas e a compulsividade e insaciabilidade do desejo são compreensíveis se virmos como expressões desta necessidade de segurança.

 A necessidade de amor se manifesta principalmente, ou até mesmo exclusivamente, na área sexual. Para compreender este fenômeno é preciso lembrar que os desejos sexuais não se expressam necessariamente em necessidades sexuais reas, mas que a sexualidade também pode representar o contato com outro ser humano.

 O histórico infantil desses neuróticos com ligação particularmente forte com o pai ou com a mãe sempre mostra um número grande de fatores conhecidos por despertarem angústia nas crianças. Fatores que funcionam juntos: a excitação da hostilidade eu se expressa devido às intimidações e à redução de auto-estima coexistentes.

 Pode-se dizer, de forma bastante generalizada, que a angústia surge na criança porque ela sente que, se expressar seus impulsos hostis, ameaçaria totalmente a segurança de sua existência. Nessa parte, a autora questiona se o Complexo de Édipo é um fenômeno geral ou até onde ele é provocado pela influência de pais também neuróticos.

 A angústia básica exagerada, sofrida pelo neurótico, é caracterizada pelo sentimento de impotência num mundo hostil e esmagador. Há várias maneiras de defesa contra esta angústia básica. Em nossa cultura, as mais comuns são as seguintes: 1) necessidade neurótica de amor; 2)a submissão; 3) a compulsão de poder sucesso e posses; 4) afastar-se emocionalmente das pessoas para estar a salvo e independente. Um efeito dessas estratégias é a tentativa de reprimir totalmente estes sentimentos para se tornar invulnerável. Outra maneira é o acúmulo compulsivo de bens, que, neste caso, não se subordina à pulsão por poder, mas sim, o desejo de ser independente.















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