A MURALHA - DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ
Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982)
é uma das oito mulheres que ocuparam a Academia Brasileira de Letras. Foi a
segunda mulher a integrar a ABL (a primeira foi Rachel de Queiroz),
eleita em 1980. Alcançou grande notoriedade como escritora, aos 28 anos, com o
seu romance de estreia Floradas na Serra, publicado
em 1939. Sua vasta obra inclui contos, crônicas e romances.
Posse de Dinah Silveira de Queiroz em 1981. |
A Muralha narra os conflitos que levaram à Guerra dos Emboabas,
do ponto de vista da família fictícia de Dom Braz Olinto. O título do livro é
uma referência à serra
do Mar. Vista do mar, as cadeias montanhosas
do litoral paulista formam uma imensa muralha verde, um bloqueio natural a ser
superado pelos exploradores para chegar ao interior do Brasil.
Capa da edição do ano 2000 do livro A Muralha. |
Em A Muralha,
Dinah não adota a imagem romântica do bandeirante altivo e imponente. Sua
narrativa está de acordo com imagem descrita pela pesquisadora Glória Kok:
“Antes de virar herói – invenção da elite no início da
República, para enaltecer a capacidade de liderança dos paulistas –, o
bandeirante foi o protagonista de uma colonização árdua e violenta, que durante
mais de dois séculos desenvolveu uma cultura própria, bem distante dos padrões
europeus”.
Dinah
também destaca a importância de uma figura obrigatória nas expedições dos
bandeirantes: o
capelão. Uma vez que a morte longe de casa era o fim mais natural
para os exploradores, não no leito cercado de pessoas da família, mas em hora e
lugar incertos. Era, portanto, indispensável a presença de um padre nas
expedições, o Capelão da Bandeira.
Como fica claro no seguinte trecho do livro:
❝ Eles, esses homens
acostumados à dureza e à lonjura, receavam a morte sem os sacramentos. Eram
pessoas que estavam já habituadas a ser informadas quase que diariamente sobre
a morte mais comum: — “Morreu no Sertão!”. Tanto podia ser morte dada por Deus
como apressada pelos semelhantes: morte de febre, devida à falta de alimentação
conveniente, ou morte em disputas — essas infindáveis disputas. Vivia
Piratininga sob a idéia da morte no Sertão, como o fim mais comum entre todos.
Alguém abria uma fazenda, ia terminar sua casa, mas não terminara, porque
morrera n o Sertão. Outro, homem de prol, tinha uma dívida: mas não a saldara,
porque morrera no Sertão. Projetava-se um empreendimento, e êle ficava apenas
no comêço da sua realização, porque morrera, num fundo de mata escura, ou ao
lado de um barranco perdido, quem o idealizara. Movia-se uma ação na Justiça, e
aquilo que durara anos e anos, de repente se dissolvia no ar monte de papelada
inútil, agora, porque quem porfiara pela Justiça morrera no Sertão. (...).❞
Trecho
extraído do livro A muralha de Dinah S. Queiroz.
ADAPTAÇÕES
Floradas
na Serra e A Muralha são
os seus trabalhos mais conhecidos e receberam diversas adaptações ao cinema e
TV. Floradas na Serra foi adaptada ao cinema em
1954 pelo diretor italiano Luciano Salce e duas vezes para a TV em 1981 e
em 1991. A muralha foi adaptada para a TV três vezes, em 1961 (na Tupi), em
1968 (na Excelsior) e em 2000 (minissérie da Globo).
Minissérie da TV Globo exibida em 2000. |
Leia mais sobre o tema …
Texto de autoria e responsabilidade do blog Literatura Brasileira.
Este texto faz parte do Desafio
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