Oração com Mantras: uma abordagem interreligiosa

Mantra (do sânscrito Man, mente e Tra controle, significado “instrumento para conduzir a mente”) é uma sílaba ou poema religioso, muitas vezes, em sânscrito. No livro Mantras: palavras sagradas de poder (baixado do Lê Livros [1]), o autor Jhon Blofeld tenta definir o que é um mantra por natureza, explica o uso dos principais mantras budistas e relata sua experiência com as artes mântricas em diversas regiões da Ásia (principalmente China, Tibete e Tailândia).

O autor [2], um especialista em filosofias e pensamento asiáticos, reconhece sua incapacidade de explanar sobre a natureza dos mantras. É interessante que para enfatizar, ele explana sobre como o som (sagrado) primordial, ou shabda em sânscrito, está presente em diversas crenças.

Blofeld menciona os livros bíblicos de Gênesis (“E disse Deus: Haja luz; e houve luz.[3]) e de João (“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [4]). Ele também se questiona sobre porque palavras com um significado simples, como Amém (“Assim Seja”) e Aleluia (“Deus seja louvado”), nunca foram traduzidos. Talvez, haja uma crença no poder da palavra e do som (isto é, do mantra) em muitas outras tradições.

O autor também cita a Prece a Jesus da tradição ortodoxa.  Essa tradição consiste em repetir “Senhor Jesus, tende piedade de nós” ou “Senhor Jesus, tende piedade de mim, pecador” inúmeras vezes durante o dia [5]. Blofeld também se questiona se o fato de católicos (romanos e ortodoxos) repetirem diversas vezes o Pai Nosso e Ave Maria também seria um rito que utiliza a palavra falada (mantra) para direcionar a mente. Chega até a especular, se os católicos romanos que preferem a missa tridentina [6], em latim, estariam intuitivamente priorizando o som sagrado para direcionamento da mente.

Um mantra é repetido infinitas vezes (mesmo que se desconheça o seu significado racionalmente), até que se entra num estado de concentração, livre de pensamentos. As tradições Vajrayana do budismo Mahayana [7], descritas pelo livro, associam a prática mântrica com visualizações para a conscientização de Unidade entre o ser que realiza a prática e o Ser Universal (para as religiões teístas, Deus).

O autor explana sobre diversos mantras budistas. Entre eles, o mais fundamental é:

Om Mani Padme Hum.

Que na versão tibetana é pronunciado como:

Um Mani Peme Hung.

Nas palavras do livro “OM, simbolizando a origem, a Fonte Suprema, o Dharmakaya, o Absoluto, é uma palavra de grande poder criativo, considerada com frequência como sendo a soma de todos os sons do universo (...)”. Um famoso professor de Yoga brasileiro [8] compara OM ao que é mencionado em Apocalipse (“E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas[9]).

O mantra Om escrito em sânscrito.

Mani Padme (jóia no lótus) significa vários conceitos como: sabedoria essencial que existe no âmago da doutrina budista; (...)o Buda em nossos corações; a meta (suprema sabedoria) e os meios (compaixão);e, se posso permitir-me tirar uma inferência, o Cristo interior que reside na mento do cristão místico”.

HUM é o condicionado no incondicionado (...); representa a realidade sem limites incorporada dentro dos limites do ser individual e, deste modo, une todos os seres e objetos separados ao OM universal; é a não-morte no efêmero, além  de ser uma palavra de grande poder que destrói os empecilhos criados pelo ego.”

“Quanto à maneira de recitação, não deve haver regras fixas (...)”.

Esse mantra pode ser recitado em todas as situações. Principalmente em casos de desarmonia com alguém, o mantra pode ser recitado enquanto se visualiza você e a pessoa envolta pela luz da compaixão (divina).

O livro também cita outras classes de mantras, com finalidades especificas, como OM AH HUM (para purificar o Universo) e RAM YAM KHAM (purifica o lugar onde o ioga será praticado).

A leitura do livro sobre mantras fez lembrar uma igreja cristã (originária na China), que está crescendo no Brasil. Essa igreja não possui nome próprio, além de “a Igreja”, mas possui uma editora chamada Árvore da Vida [10]. Nessa doutrina, os adeptos recitam “Oh, Senhor Jesus!” ininterruptamente durante muito tempo e se entregam incondicionalmente a Jesus.  Eles acreditam cumprir assim o que foi pregado em Gênesis (“E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor.[11] ).

Seja por meio de um mantra budista, por uma prece cristã, judaica (Shemá, Israel!) ou muçulmana (a recitação dos nomes de Alá!) traga os sons sagrados para fazer parte da sua vida. Recite-os diariamente e viva a entrega libertadora da prática.

O livro Mantras, palavras sagradas de poder é uma ótima referência para quem quer saber mais sobre o assunto.  Abaixo segue um áudio da recitação do mantra Oh Mani Padme Hum por monges budistas.

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Boa semana a todos!



Referências:
[8] HERMOGENES, J.  (2011). Yoga para Nervosos. Rio de Janeiro: Best Bolso








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