A Boa Terra - Pearl S. Buck

Pearl Sydenstricker Buck foi uma escritora laureada com o Prêmio Nobel em 1938. Também foi a primeira autora americana à receber essa honraria.

Buck teve uma experiência de vida única. Seus pais eram missionários cristãos. Logo ao nascer, ela foi levada para China. Seus pais queria que ela se integrasse plenamente à cultura chinesa. Por isso, aprendeu o idioma de lá, ante de aprender o inglês. Mais tarde, já adulta, ela foi mandada para os EUA, a fim de completar seus estudos. Contra a vontade dos pais, ela se casou com um missionário cristão e volta à China para ajudá-lo. Seu romance A Boa Terra é ambientado nessa região, onde ela viveu com seu marido.

Numa idade mais madura, Buck questionou alguns pontos da sua religião de origem e se separou da linha mais tradicional. Ela se divorciou de seu marido. Retornou aos EUA e, além da escrita de livros, ela se dedicou a lutar pelo direito das mulheres e minorias e pelas adoções multirraciais.

O romance A Boa Terra foi uma leitura muito agradável. Trata-se de uma saga familiar chinesa.. Li quase 60 páginas por dia, porque queria saber o que acontecia com cada personagem. Era envolvente. Além disso, o livro permite ao leitor conhecer um pouco mais da cultura da China.

O protagonista é o lavrador Wang Lung. Ele é muito pobre e decide se casar comprando uma escrava de uma grande família (sim, todas as mulheres são chamadas de escravas na cultura daquela época e algumas o são de fato). Ele compra O-lan. Uma mulher dura, forte para o trabalho e capaz de lhe dar filhos. Eles enfrentam adversidades inacreditáveis, como seca, fome, guerra, etc. Mas as maiores adversidades vêm de dentro deles para mesmos. 

Essa estória poderia ser uma estória de qualquer família em qualquer época. Isso lembra outros Nobels que escreveram super sagas familiares: Thomas Mann escreveu Os Bruddenbrook , John Steinbeck escreveu A Leste do Éden e Gabriel García Marquez, Cem Anos de Solidão.

Além de ser um ótimo romance, A Boa Terra permite ao leitor conhecer a China e sua cultura “de dentro”. Pois a autora realmente viveu essa experiência, conhecia e amava a China. No prefácio da segunda edição, Buck comenta:

“Mas não há dúvida de que o povo chinês é o que tem sido sempre. Ele sobreviveu à guerra. Milhares morreram, mas centenas sobreviveram e realmente vivem. Eles voltaram de novo para terra,como fez Wang Lung, e, como Wang Lung, mais uma vez construíram suas casas e estabeleceram suas famílias.(...)

Apegados ao velho censo comum, os chineses nem mesmo se apressam a livrar-se dos tiranos. Acreditam que o Céu e a Natureza desempenharão tal tarefa. Como sabem eles quando o Céu manda sobre a tirania? Pelo simples fato de que o preço do arroz foi além do que o homem comum pode pagar. Um bom administrador conserva baixo o preço do arroz. Quando ele não tem mais capacidade de assim o conservar é tempo de abandonar o cargo.

Quando um governante não pode garantir o preço do arroz,
deve abandonar o cargo.
 Imagem do Pixabay.

A democracia chinesa é e tem sido sempre simbolizada pela família. O conceito chinês sobre as relações do povo com o chefe de governo e seus conselheiros é o mesmo que existe na família entre o pai, o irmão mais velho e os outros membros.(...)

Os governos tem sempre saído do povo e deste sairão. É uma questão de tempo.(...)

E o comunismo?

A pergunta que os chineses fazem é esta: “Que espécie de homens e mulheres são os comunistas? São eles em primeiro lugar chineses ou comunistas?” O povo chinês acredita que existam as duas espécies.(...)


Com isso, podemos, então afirmar que os novos governantes poderão ser comunistas pertencentes ao primeiro grupo? O povo chinês afirma que a Natureza não quer que assim seja, pois esses comunistas são homens que entendem os camponeses e a vida do campo, mas não têm experiência de governo. Tradicionalmente, o governo chinês deve ficar nas mãos não dos camponeses, mas dos filósofos e sábios. Os novos governantes devem sair mais uma vez dentre estes últimos, que, em sua sabedoria, deverão escolher auxiliares que conheçam os camponeses e a vida do campo. E, desta vez, a prova será ainda o preço do arroz.(...)

Os chineses são bastante realistas para saberem que, em qualquer sociedade, há certos indivíduos que se rebelam e que são, por natureza, destruidores. As condições não podem ser perfeitas para todos os indivíduos, por mais admirável que seja o sistema.(...)

O chinês não gosta de líderes nem confia neles, onde quer que os encontre. Em parte alguma o meio termo no indivíduo humano é mais admirado. O homem ambicioso é institivamente considerado pelo chinês como um tirano em potencial. A História tem provado que esta conclusão é exata.(...)

Quem pode afirmar que os chineses estão errados? Quem pode dizer que esse povo está em erro, se ele compreendeu a vida antes de nós e antes que nossa civilização tivesse surgido? Se o mundo continuar nesta marcha, os chineses permanecerão por muito tempo, até depois de nos termos destruído. Talvez eles cheguem até a salvar-nos, se permitirmos que nos salvem.”


Boa semana a todos (as)! Boas leituras.

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