Antes do Golpe – Notas sobre o processo que culminou no golpe militar de 1964
O livro...
Li,
na hora do almoço, o livro Antes do Golpe
– Notas sobre o processo que culminou no golpe militar de 1964 de Ferreira
Gullar. O livro tem apenas 14 páginas e baixei gratuitamente no site Lê Livros (mais informações ao fim
deste texto).
Ferreira
Gullar é um intelectual brasileiro nascido no interior do Maranhão em 1930. Um
fato que o colocou na mídia nos últimos anos é ele possuir dois filhos
esquizofrênicos. Ferreira Gullar critica frequentemente a política de tratamento
psiquiátrico no Brasil.
Ferreira
Gullar também vivenciou o golpe militar do Presidente Getúlio Vargas e depois o
golpe militar do Presidente João Goulart, que culminou numa ditadura de 21
anos. No seu livro, ele narra, em primeira pessoa, como e o que levou ao golpe
de 1964. É um relato muito lúcido, quase imparcial.
Ferreira
Gullar aponta o golpe de 64 como uma continuação do golpe a Getúlio, com os
mesmos agentes e os mesmos interesses. Da maneira como ele explica, faz todo
sentido. Mas nunca tinha me atentado a esse fato. Seriam os mesmos agentes da situação política atual? Às vezes, temo que
sim.
O
texto começa:
“O golpe militar que derrubou o
presidente João Goulart em 1964 começou bem antes: foi resultado de um processo
complexo que, envolveu fatores internacionais, teve sua origem na própria
história brasileira.”
Depois
o texto explana sobre a queda de Vargas e seu suicídio. O governo instável de
Café Filho, seguido do também instável de Juscelino Kubitscheck. A participação decisiva do general Henrique
Lott, então ministro da Guerra, em prol da democracia para JK conseguisse
governar.
Em
seguida, o governo de Jânio Quadros, sua renúncia e a posse, em meio ao caos
total, de João Goulart. O autor descreve como estava a questão da Guerra Fria
lá fora e aqui dentro, porque os EUA tentaram aumentar sua influência militar
nas Américas e como surgiu a Escola Superior de Guerra.
Alguns
trechos muito impactantes:
“(...) o grupo de oficiais que
participou do golpe e da formação de governos militares não tinha a mesma
opinião quanto à maneira de conduzir o regime e de reprimir as opiniões
contrárias.”
“Inicialmente, preponderou a facção
mais moderada, que optou por manter o Congresso aberto e as eleições de
parlamentares governantes.” (Vide
general Castelo Branco, nota deste blog).
Outro
fato que me chocou, porque nunca soube:
“Não era porque João Goulart fosse
esquerdista, coisa que não era – e o serviço secreto norte-americano sabia
muito bem disso, como também sabiam os chefes militares brasileiros. O perigo que ele significava tanto para uns
como para outros estava nos compromissos assumidos com sindicatos e setores de
esquerda, que lhe deram apoio no momento crítico de assumir a chefia do governo
contra a vontade dos adversários políticos e militares.”
Além
disso, o autor afirma não acreditar que os EUA teve participação direta no
fomento da Ditadura brasileira :
“Não me parece que a ideia do golpe
tenha sido obra do americano, uma vez que nossos militares tinham sido formados
com esse propósito, e muitos deles desejavam tirar o controle do Estado das
mãos dos civis e passarem eles próprios a governar o país.”
O
primeiro general a se sublevar foi Olympio Mourão Filho, um integralista com
suposto envolvimento na falsificação de documentos para derrubar Getúlio Vargas
(caso que ficou conhecido como Plano Cohen). Pela descrição do autor, tem-se a
impressão que as pessoas na época achavam que o general agira sozinho e era um
caso isolado. Até que, alguns dias depois, o general Amaury Kruel, comandante
do II Exército aderi à causa e, de fato, tomou o poder.
Nota-se
a divergência de opiniões entre o alto oficialato, pois o brigadeiro Teixeira,
comandante da III Zona Aérea, mandou reforços para proteger os estudantes da
UNE (presididas pelo então jovem José Serra!).
Vale
muito a pena ler este texto de Ferreira Gullar numa fila, num almoço ou em
qualquer outra hora. Uma leitura rápida que terá forte impacto na sua interpretação
do contexto político atual.
Boas
leituras! Bom fim de semana!
O site...
Já
faz um tempo que estou usufruindo do site
Lê Livros. É um site onde podemos
baixar vários livros NOVOS gratuitamente, em vários formatos. As editoras fazem
parcerias com Lê Livros e disponibilizam alguns títulos. Vale a pena a pena
conferir.
Para
livros mais antigos, cujos direitos autorais já expiraram, existe também o Domínio
Público.
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