O Amante de Marguerite Duras


 Conheci o livro O Amante de Marguerite Duras, quando eu estava assistindo uma coleção da Folha sobre filmes baseados em livros. Fiquei fascinada com a fotografia do filme, mostrando o Vietnam, a cidade de Saigon e o rio Mekong.

 Resolvi ler o livro. É bem pequeno, menos de 100 páginas. Então este é um dos raros casos em que o filme mostra QUASE toda história narrada na obra. 

 A história é autobiográfica, logo não dá para cobrar que o enredo não é muito rico, não tem muitos personagens. É a verdade crua. 

 Marguerite Duras (pseudônimo de Marguerite Donnadieu) nasceu na Indochina (atual Vietnam) em 1914 (época que a França dominava a região). Seus pais eram professores, mas Marguerite ficou órfã de pai aos 4 anos. Sua mãe tentou investir em uma fazenda na região, mas faliu, deixando a família (a mãe, Marguerite e dois irmãos) na miséria. Seu irmão mais velho era viciado em ópio e roubava a mãe. Seu irmão mais novo aparentemente era deficiente mental. A mãe dava aulas no interior do país para sobreviver e mandou Marguerite estudar num internato na capital, pois sonhava que a filha se tornasse professora.

  Aos 15 anos, Marguerite conhece um milionário chinês, doze anos mais velho que ela, durante a travessia da balsa para chegar a Saigon, a capital. Eles se tornam amantes. A história gira em torno do preconceito da família dela, por ele não ser branco, e da família dele, por ela não ser chinesa. 


 O estilo da autora foi classificado na época como novo romance. Livros desse estilo têm por característica: não obedecer a ordem cronológica; não fazer descrições psicológicas; ser uma sequência resumida de cenas curtas e ter poucos personagens. Por isso, eram considerados desumanos. O Amante tem todas essas características, mas ele é tudo, menos desumano. Ele é tão humano que sua leitura dói.

 O livro explora várias nuances psicológicas, como a relação familiar problemática, o conflito entre os irmãos, a morte de um deles, até mesmo as questões da guerra que Marguerite viveu ao retornar à França.

 Isso me fez traçar paralelos com outro grande romance A Leste do Éden de John Steinbeck. Coincidentemente ambos são: de cunho autobiográfico; relatam a relação conflituosa entre irmãos; tem um personagem marcantemente psicopata; tem um personagem masculino extremamente fraco. Talvez a fôrma dos bons escritores seja nascer em uma família traumatizada e ter o dom de compreender a alma humana.

 Mesmo assim, entre O Amante e A Leste do Éden devo confessar que acho o segundo incomparavelmente melhor. Talvez o melhor romance que já li na vida.



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