E NÃO É QUE ATINGIMOS A META? OU QUASE...

Hoje, 31 de dezembro de 2016, damos “adeus” ao ano que passou e renovamos a esperança para esse ano que vem chegando, 2017!

Há cerca de 365 dias, eu me comprometia a ler 30 livros e cinco releituras. Sendo que 12 desses livros, eu escolhi o título (relembre clicando aqui). O Skoob é uma comunidade virtual de leitores. Além de conhecer pessoas que também se interessam pela leitura, lá também é possível trocar livros. Eu uso o Skoob para controlar minhas leituras (embora não seja possível registrar a leitura de livros muito antigos, sem ISBN, nele).

Segundo o Skoob, em 2016, eu li 35 livros. J Dos quais, apenas um (Daniela e os Invasores de Dinah Silveira de Queiroz) é uma releitura. Portanto, a meta foi parcialmente atingida. Ficando a desejar, apenas as releituras. Confira ao final deste post, a lista completa de livros.

MELHOR LEITURA DE 2016

É difícil escolher as melhores leituras dentro de gêneros tão diversos (de literatura estrangeira à religião, passando por economia). Mas vou destacar uma como leitura obrigatória para todo brasileiro: Os Judeus que Construíram o Brasil : Fontes Inéditas para uma Nova Visão da História das pesquisadoras e professoras doutoras de História da Universidade de São Paulo (USP), Anita Novinsky, Daniela Levy, Eneida Ribeiro e Lina Gorenstein.

O livro trata da colonização brasileira, composta majoritariamente por judeus (muitas vezes, convertidos a força ao cristianismo) e da perseguição que eles sofreram no Brasil colonial. Não existem números exatos ainda, mas as pesquisadoras tiveram acessos aos arquivos da Inquisição. Estima-se que, pelo menos, 20.000 pessoas tenham sido processadas (e isso, na época, envolvia automaticamente ser torturado) e entre 1.000 e 5.000 foram executadas pelo crime de acreditar em outra fé. Isso marcou a cultura e tradição brasileira. Na minha opinião, é o que mais nos diferencia dos demais países da América Latina.



Eu frequentei a escola na década de 90...Lembro claramente da minha professora de História falar que o Brasil não era bom, porque foi formado por “bandidos” e pessoas “condenadas pela justiça”. Mas ninguém me contou porque essas pessoas eram “condenadas”. Qual era o crime delas? O “crime” era acreditar em outra religião.

Até onde eu sei, a Austrália é o único país do Novo Mundo que foi fundando por criminosos comuns (homicidas, ladrões, etc.). E, aliás, apesar desse passado “inglório”, a economia australiana vai muito melhor que a brasileira.

A colonização brasileira foi feita quase exclusivamente com judeus e muçulmanos (fugindo da perseguição na Península Ibérica), índios, negros e poucos portugueses cristãos, trazidos pelo sonho de enriquecimento. Praticamente ninguém era “criminoso” de fato, para os padrões modernos.

Mesmo assim, quase 500 anos depois, 20 anos depois que eu saí da escola, ainda sou obrigada a ler num jornal de prestígio como o Valor Econômico que um procurador da República, um homem que pela sua própria formação deveria ter um conhecimento mais abrangente de História do Brasil, fez a seguinte declaração:


"Quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono". (Leia o artigo na íntegra, clicando aqui).


Independentemente das opiniões políticas do Procurador, ele não precisava ofender as “tradicionais” famílias brasileiras, para ser uma pessoa de direita ou de esquerda. Isso me pareceu uma ofensa gratuita e desnecessária ao povo brasileiro, da qual eu desconheço as razões.

Para construir um País digno, todo povo precisa saber a Verdade sobre a sua História, ter orgulho dela e humildade para aprender com as partes desagradáveis e espinhosas (quando houver). A colonização brasileira não é um episódio vergonhoso da nossa História. Muito pelo contrário, é algo do qual deveríamos nos orgulhar. Ela nos tornou um povo mais tolerantes com diferenças religiosas, comparativamente com outros países latino-americanos na mesma época. Na Constituição de 1824, lê-se:

Art. 5. A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.

Embora ela reforce que a crença católica é a oficial, ela garante o direto de existência de todas as outras, o que é um grande avanço para época. Os missionários Daniel P. Kidder, James Cooley Fletcher, Robert Reid Kalley, Ashbel Green Simonton, Alexander L. Blackford e Francis J.C. Schneider, entre tantos outros, pregavam sua crença protestante desde o começo de 1800, devido à cultura de tolerância religiosa desenvolvida pelos brasileiros coloniais. Veja a cronologia clicando aqui.

O primeiro deputado federal protestante foi eleito em 1933. Guaracy Silveira era um pastor metodista era um político liberal e socialista. Ele era protestante, liberal e socialista e foi eleito (Mais informações aqui). Por quê? Porque o Brasil aprendeu, desde seus colonizadores, que a liberdade religiosa é um bem muito importante. Quer ter padrões? Compare com a Argentina atual lendo o artigo de Souza, Ruata e Campanha (clicando aqui). Os autores concluem:

“Na Argentina, o catolicismo tem um peso demográfico (76,5%) e jurídico maior, já que ainda mantém seu vínculo com o Estado(...)”

Assim como diz a Bíblica cristã: “E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará.” (João 8:32). Obviamente, Jesus se referia à Verdade Divina. Mas isso se aplica às verdades terrenas também. Um(a) brasileiro(a) que professa uma fé diferente da católica apostólica romana tradicional, deveria ser, pelo menos, grato(a) aos brasileiros(as) coloniais, que construíram um país com mais tolerância religiosa, derramando seu sangue nas salas de tortura coloniais.
Só resta deixar 2016 desejando um 2017 com mais leituras. Mais conhecimento e menos intolerância.

AGRADECIMENTOS

É difícil nomear todas as pessoas que tornaram esse blog possível. Em 2016, o público leitor cresceu cinco vezes em relação a 2015. Muito obrigada a você, leitor (a), que nos lê e ajuda divulgar nosso trabalho. Feliz 2017!
Agradeço também aos parceiros que colaboram com ideias, escrevem para o blog, leem e revisam os textos: Amanda, Paulo, Jaciara (do Literatura Brasileira) e Ricardo (do Rekadinho Poético).

Imagem retirada do Pixabay.


MUITO OBRIGADA!

Literatura Estrangeira
1.    Os Miseráveis – Victor Hugo (Francesa)
2.    Hamlet – Shakespearte (Inglesa)
3.    Mrs. Dalloway – Virginia Woolf (Inglesa)
4.    Demian – Hermann Hesse (Alemã)
5.    A Distância entre Nós – Thirity Umrigar (Indiana)
6.    A Boa Terra – Pearl Buck (Americana)
7.    O Quarto 19 – Doris Lessing (Americana)
8.    Fundação – Isaac Asimov (Americana)
9.    Canto Geral – Pablo Neruda (Chilena)
10.A Máquina de Fazer Espanhóis – Valter Hugo Mãe (Portuguesa)

Literatura Brasileira
1.    Anarquistas Graças a Deus – Zélia Gattai
2.    Ciranda de Pedra – Lygia Fagundes Telles
3.    O Pão de Cada Dia – Nélida Piñon
4.    Uma Mulher Vestida de Sol – Ariano Suassuna
5.    Éramos Seis – Maria José Dupré
6.    Daniela e os Invasores – Dinah Silveira de Queiroz

História
1.    Castelo de Papel – Mary del Priore
2.    Golda- Elinor Burkett
3.    Antes do Golpe – Ferreira Gullar
4.    Os Judeus que Construíram o Brasil – Anita Novinsky e equipe de pesquisa
5.    Uma Juventude na Alemanha – Ernest Tolle

Economia Brasileira – História da Economia
1.    Bilhões e Lágrimas: A Economia Brasileira e seus Atores – Consuelo Dieguez
2.    Sonho Grande – Cristiane Correa
3.    Brazillionaires – Alex Cuadros

Como Melhorar sua Vida
1.    Resiliência – Paulo Sabbag
2.    Tive uma Idéia – Mônica Martinez
3.    Como Enxergar sem Óculos – Matheus de Souza
4.    Complexo de Cinderela – Colette Dowling
5.    Conversas com um Jovem Professor – Leandro Karnal

Poesia
1.    Os Sonetos a Orfeu/ Elegia a Duíno – Rilke (Alemã)
2.    Rubaiyat – Omar Khayyam (Persa)

Religiosidade
1.    Mantras: Palavras de Poder – Jhon Blofeld
2.    Yoga – Sandra García
3.    O Caminho dos Justos – Moshe Chaim Luzzato
4.    A Vida Mística de Jesus – Spencer Lewis



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