Uma Juventude na Alemanha - Indispensável para entender a política atual
Ernst Toller foi um dramaturgo,
poeta, político e revolucionário alemão, nascido em 1893 e falecido em 1939. Ou
seja, ele viveu e lutou durante a Primeira Guerra Mundial, viveu todo o caos
político da Alemanha no período entre guerras, o afloramento do nazismo e
faleceu antes da Segunda Guerra.
Uma
Juventude na Alemanha é uma autobiografia, escrita em 1933, e agora
publicada pela editora brasileira *mundaréu.
Apesar do autor ter lutado no front, alguns
leitores podem se decepcionar porque o livro dedica apenas um capítulo à
descrição das batalhas mundiais. Praticamente todos os demais capítulos são
dedicados às questões políticas e à guerra civil alemã do período. Tratou-se de uma revolta em Munique, capital
da Bavária, estado no Sul da Alemanha, que estabeleceu um novo governo, chamado
de República
Conselhista. Nesse cenário político, existiam socialistas, comunistas,
sociais-democratas e trabalhadores sem partidos. Todos lutando pelo poder na
nova república. Os erros e desorganizações internas, assim como a oposição
externa de Bamberg e Berlim,
fizeram com que essa tentativa de república fosse massacrada. Milhares de
alemães morreram dos dois lados dos confrontos.
Uma
Juventude na Alemanha é o melhor livro que li em 2016. Apesar de não me
identificar com a ideologia do autor, que era socialista (eu me acredito
fortemente nos ideais do liberalismo econômico), ele usa uma linguagem simples
e fácil. A leitura é agradável. E a trama de ações, seguida de reflexões sobre
os fatos, prendem a leitura, de maneira muito envolvente. Toller era amigo do
poeta Rilke (confira sobre ele no nosso blog) e do
Nobel Thomas Mann (confira no nosso blog), que, por
várias vezes, elogiaram seu estilo de escrita.
Algumas reflexões de destaque:
“Para nós, política significa sentir-se
corresponsável de seu país e assim agir.”
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“Os políticos mentem para si mesmos e
mentem para os cidadãos. Chamam seus interesses de ideais e é por esses ideais –
por ouro, por terra, por minério, por petróleo, por coisas completamente mortas
– que as pessoas morrem, passam fome e se desesperam.”
***********************
“O procurador do tribunal de guerra crê
que há uma rede de complôs tomando conta da Alemanha. Assim, quanto mais
verdadeiras minhas respostas, mais incríveis lhe parecem. Ele quer ver o que é
simples como algo complicado; o que é espontâneo como deliberado e o fortuito,
como calculado e premeditado.”
***********************
“Nada torna um ator político mais culpado
que o silêncio. Ele tem que falar a verdade, não importa quão pesada ela seja,
apenas a verdade estimula a força, a vontade e a razão.”
***********************
“Quem hoje deseja lutar no plano da
política, lidando com os interesses econômicos e humanos, tem que saber com
clareza que o princípio que orienta sua luta e as consequências dela são
determinados por poderes bem diferentes de suas boas intenções.”
A passagem abaixo, faz refletir
se à repressão a jovens influenciados por ideais de esquerda colabora para uma mudança
de ponto de vista, ou, pelo contrário, fortalece ainda mais a convicção desses
jovens:
“O que me fez acabar nas fileiras dos
trabalhadores em greve foi o acaso, não a necessidade, o que me atraiu foi a
sua luta contra a guerra. É só agora, na
prisão, que me torno socialista.”
A opinião
do autor sobre Hitler, lembrando que Toller morreu no mesmo ano que a Segunda
Guerra começou, ele não testemunhou seu fim:
“Um homem chamado Adolf Hitler foi
condenado a alguns meses de prisão porque tentou barrar uma reunião do Partido
Monarquista Bávaro.”
“Hitler incita o povo a um nacionalismo
raivoso. Não me lembro de ter ouvido seu nome quando, há dois anos, nós, “os
inimigos internos”, começamos a lutar contra as injustiças do Tratado de
Versalhes. Durante a revolução, ele também esteve em silêncio.”
“Àquele
momento, Hitler se declarava social-democrata.”
“Hitler é acusado de alta
traição, mas percebe-se claramente que ele tem a simpatia dos juízes
republicanos.”
Em
seguida, o autor explica porque Hitler era favorecido pelo judiciário alemão.
Toller critica fortemente a classe dos juízes alemães da época, além da
passividade e alienação da classe de intelectuais e a inconsistência do partido
social-democrata, que, uma hora apoiava os socialistas, outra hora, os
comunistas e, por fim, até Hitler. Qualquer semelhança com a realidade política
brasileira (não só do PSDB) é mera coincidência. Rs.
Falando
um pouco mais de política....
Para quem pode se surpreender ao
encontrar o partido social-democrata dentro de uma revolução de esquerda (o
representante dessa ideologia no Brasil é o PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira), é
preciso lembrar que social democracia é uma ideologia política, fundada no
século XIX, por comunistas que achavam
que a transição para o socialismo deveria ocorrer por meios democráticos. Então,
sim, ideologicamente o PSDB deveria ser considerado, no máximo, um partido de
centro-esquerda.
Mas a classificação simplista, “direita” e “esquerda” (ou “coxinha” e
“petralha” dos dias atuais) é muito
simplista. Na verdade, as ideologias se diversificaram. O vídeo O que é Esquerda e o que é Direita? (duração:
5’53”) do Canal Planalto Central explica de modo simples, como “classificar” as
ideologias políticas. Ter esses conceitos em mente é fundamental para uma
discussão política madura.
Também há um artigo muito interessante do jornal Le Monde Diplomatique Brasil, intitulado: Social-democracia europeia vs. socialismo latino-americano?. O artigo mostra a evolução e as diferenças ideológicas dos partidos de “esquerda” na Europa e na América Latina. Destaca-se:
“Vagamente
reformistas (os partidos de esquerda latino-americanos), eles utilizaram a Internacional
Socialista (IS) para buscar ultrapassar a democracia cristã quando as ditaduras
caíssem e porque, levando em conta o poder econômico dos países que governaram
ou governariam em breve seus amigos do outro lado do Atlântico, calcularam as
vantagens que poderiam tirar disso.”
Para
quem quer saber mais sobre o nazismo e seus opositores,
Recomenda-se a biografia do
general von Hammerstein-Equord, entitulada "Hammerstein
ou a Obstinação" do escritor alemão atual Hans Magnus Enzensberger (foto da capa abaixo). Ele foi um militar inteligente, com um perfil incomum.
O general von Hammerstein-Equord
o maior opositor de Hitler. Durante todo o governo nazista, ele se referia a
Hitler como “o cabo de Viena” ou “aquele psicopata”. O general apoiava
abertamente a luta de seus filhos (e filhas igualmente) contra o regime
político e uma das frases que ele possivelmente disse quanto a isso foi: “O medo não é um partido político.”.
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Nosso próximo post
deverá ocorrer no dia 21 de novembro à noite.
Boas leituras!
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