Entre escritores e músicos...
Afinal, saiu o Prêmio Nobel de Literatura e
ele foi, pela primeira vez, para um músico, Bob Dylan, pela poesia de suas
letras.
No Brasil, o músico Martinho da Vila concorreu para Academia Brasileira
de Letras (ABL) em 2010. Ao contrário do compositor norte-americano, Martinho já
escreveu doze livros: dois sobre literatura musical, três infantis, seis
romances e uma autobiografia. Na época, o escritor brasileiro perdeu a cadeira na ABL para Paulo
Coelho.
Algumas pessoas questionaram o fato de
Martinho ser originariamente compositor e não escrito. Segundo elas, isso o deixaria inapto para à ABL. Depois que Bob Dylan ganhou o Nobel, talvez, os caminhos fiquem mais livres para esse tipo de artista que não se limita a uma só arte.
Outra artista que possibilitou essa transição
da poesia para a música foi a poetisa paulista Hilda Hilts. Nos últimos anos de
sua vida, o compositor Zeca Baleiro musicou os poemas De Ariana para Dionísio. Além disso, Zeca convidou cantoras brasileiras para gravar os poemas de Hilda. Assim surgiu um dos mais lindos álbuns da
nossa música: Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé – De Ariana para
Dionísio. É possível escutá-lo no Youtube.
Para quem pensa que o mercado audiovisual já
tem seus próprios lobbies, diferentes dos do mercado editorial, portanto, que um
prêmio de literatura não deveria ser dado a um músico... Existem outros prêmios
de igual relevância que vale a pena acompanhar. O site da Revista Pessoa, por exemplo, lista
os maiores prêmios da língua portuguesa.
Entre esses prêmios, destaca-se o Prêmio Sophia de
Mello Breyner Andresen da Ilha da Madeira. O poeta Manoel de Barros, assunto de
nosso último post, foi honrado com essa premiação.
Mas quem foi Sophia Andresen? Muito menos
lida no Brasil do que seu filho Miguel Sousa Tavares (autor do romance
Equador), Sophia Andresen foi uma poetisa e intelectual portuguesa. Embora de
princípios e ideais conversadores, católica e monarquista, ela lutou contra ditadura
em Portugal, denunciando o ditador Salazar e seus seguidores.
Para finalizar, fica um lindo poema da
autora, que por sua melodia, não deixa de ser uma música:
Esta Gente
"Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre*
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo."
*milhafre é uma ave de rapina. Confira na
Wikipédia.
Bom domingo!
Boa semana a todos (as)!
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