Complexo de Cinderela - Colette Dowling
Falaremos de outros
livros no tempo devido (“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo
propósito debaixo do céu”. Eclesiastes 3:1), começamos agora por Complexo de Cinderela.
Complexo
de Cinderela já foi considerado um livro feminista. A
autora, uma jornalista norte-americana, se casou na juventude, teve vários
filhos. Mas seu marido apresentou problemas mentais graves. Ele morreu após
várias crises, deixando ela e as crianças sozinhos. Colette assumiu bravamente
o sustento da casa e conseguiu prover todos com seu trabalho. Até que, alguns
anos depois, ela se casou novamente. Um ano depois de casada, ela se viu
deixando todo o trabalho do sustento da casa nas costas de seu marido. Colette,
aos poucos, foi deixando de trabalhar, de ser forte e independente, como
costumava ser. Ela percebeu que as mulheres podem trazer em si um desejo (não
assumido) de serem salvas, de serem
protegidas da vida adulta, de suas angustias e ansiedades, por um outro, um
homem Assim como o Príncipe Encantado salvou
a Cinderela.
Baseado nisso, ela parte
para a pesquisa, ilustrando com vários exemplos de mulheres reais. Devido ao complexo,
a autora acusa as mulheres de serem menos ambiciosas que os homens, de optarem
por profissões mais mal remuneradas, tudo em prol dessa salvação imaginária. Quando
ficam idosas, as mulheres recebem aposentadorias proporcionais ao que recebiam
pelo trabalho da juventude. Portanto, idosas recebem menos que idosos e
enfrentam maiores dificuldades na velhice. Na realidade, ninguém tem real
capacidade de salvá-las.
Além disso, Colette trata
da origem desse complexo. Ele pode ter raízes até pré-históricas, quando as
mulheres realmente precisavam de homens fortes que as protegessem de animais.
Mas, segundo a autora, nos dias de hoje, ele é construído pela sociedade e pela
família.
Colette também fala do “pânico do gênero feminino”, ou seja, que
as mulheres se sentem mais ansiosas que os homens com a perspectiva de terem
sucesso, isso faz com que elas fracassem mais ou se retraiam mais, pagando um
alto preço. É interessante notar que Colette traz exemplos de casos assim em
todas as mulheres: as solteiras que trabalham, as donas de casa e as casadas
que trabalham.
Por último, Colette propõe
o autoconhecimento e auto-observação para se libertar. Ela termina citando a
psiquiatra Karen Horney, cujos posts
são mais lidos do nosso blog (Confira
clicando aqui). E também conta detalhes da vida pessoal da escritora Simone
Beauvoir, que eu desconhecia. Simone, segundo Colette, era muito dependente de
Jean-Paul Sartre, seu companheiro. Fato que eu concordo e critico (Para saber
mais, confira aqui). Consciente, Simone decidiu se afastar por um ano, saindo
de Paris, trabalhando sozinha e fazendo intermináveis caminhadas solitárias.
Ela chegava a marchar 40 km por dia. Segundo Colette, esse foi um ritual de
passagem da Simone Beauvoir para vida independente de fato.
Tenho minhas críticas ao
livro Complexo de Cinderela. Penso
que ela joga alguns conceitos sem defini-los bem. Os exemplos são insuficientes
para se provar uma teoria complexa. Em alguns raros momentos, achei a autora
contraditória.
Mas, sou obrigada a reconhecer que apesar de tudo, o livro e o
tema permanecem atuais. Milhares de mulheres se retraem e
estão abaixo de seu potencial devido a esse complexo. A leitura de Complexo de Cinderela permanece muito válida.
Outra coisa que esse
livro me fez pensar, é que eu nunca tinha visto dependência emocional, como uma
“dependência” de fato. Por exemplo, a maioria de nós acha que dependência química
é algo a ser evitado e tratado. Nossa sociedade recrimina a dependência química.
Por que dependência emocional do cônjuge, não?
Segue um trecho sobre uma
mulher real que chegou a ser presa, devido a sua dependência emocional:
“Em relacionamentos dependentes existem
diferentes maneiras de se manter o equilíbrio desejado. Às vezes a esposa finge
que o marido lhe é superior. Promover isso pode requerer verdadeiros atos de
contorcionismo. (...)
Outro truque é fazer exatamente o oposto: diminuir os homens
apontando quanto eles se assemelham às crianças. “Os homens são todos iguais” (...)
Esta conduta feminina constitui um sinal seguro de sofrimento.
Trocando umas com as outras o confortante clichê “todos os homens são bebês”,
externam parte da dor pelo ruir de seus sonhos de meninas, sem arriscarem a
promoção de mudanças. Elas fazem nada por suas vidas. Simplesmente queixam-se.
(...)
A esposa dependente frequentemente oscila entre a idealização e
a derrubada do marido. (...)
Madeleine também diminuía Manny, preferindo pensar nele como alguém
frágil e necessitado de proteção. O desempenho do papel de protetora ajudava-a
a resgatar um pouco da sua autoestima. (...)
Sob o
disfarce de ajuda aos maridos, muitas mulheres fazem um investimento emocional
no sentido de manterem a fraqueza de seus maridos.”
Para finalizar o nosso post de hoje:
“Aprendi que a liberdade e a independência
não podem ser arrancadas dos outros- da sociedade em geral, ou dos homens-, mas
podem ser ativamente desenvolvidas desde dentro.”
Por favor, desculpem-nos
por essas duas semanas sem escrever. Durante o período, foram lidos três livros:
Os Judeus que construíram o Brasil de
quatros professoras de História da USP, Mrs.
Dalloway da escritora inglesa Virginia Woolf e Complexo de Cinderela de Collette Dowling. Agora estou começando a
ler Quarto 19, uma coletânea de
contos da Nobel britânica Doris Lessing. Por favor, fiquem à vontade para nos enriquecer com seus
comentários e sugestões!
Bom final de semana a todos e todas!
Boas leituras!
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