Bilhões e Lágrimas – A economia brasileira e seus atores
Este foi o momento certo para ler Bilhões e Lágrimas, tanto do ponto de
vista da maturidade intelectual, quanto do ponto de vista do momento econômico
que estamos vivendo.
O livro é uma coletânea de matérias publicadas
entre 2006 e 2013. Todas as matérias são feitas a partir de várias entrevistas
com atores da nossa economia: banqueiros (de sucesso e falidos), presidentes do
Banco Central e do BNDES, donos e presidentes das maiores empresas nacionais.
A primeira delas é uma matéria que traça o
perfil do ex-banqueiro Luiz Cesar Esteves, antigo dono do Pactual. Para minha
surpresa, ele era um menino de classe média de São Carlos. Atualmente moro nessa cidade.
Na adolescência, Luiz Esteves brigou com o
pai, um bancário da Caixa, foi morar com a mãe em São Paulo e dedicou a vida a
se tornar um banqueiro. Seria uma maneira de se provar melhor que o pai? Não
sabemos, o fato é que ele foi um dos banqueiros mais poderosos do País por algum tempo, até falir ou ser enganado pelos sócios (você escolhe a versão que prefere ou até ambas).
A entrevista conta a versão de cada um dos
envolvidos. Está na lista de próximos livros, Sonho Grande. Este livro conta a história do ponto de vista dos
sócios que ficaram. Lá eles são os heróis. Vai valer a pena contrapor.
Voltando ao livro Bilhões e Lágrimas, em seguida, o livro traz
uma matéria sobre a vida do banqueiro
Luis Stuhlberger. Dessa vez, um banqueiro bem sucedido. Também um menino
de classe média, feio e desengonçado, que se tornou um mito do mercado
financeiro. O livro conta o como e o porquê.
Uma opinião pessoal, Luis Stuhlberger parece
ter muito mais equilíbrio emocional e uma relação mais estável com a família
do que Luiz Esteves. Seria isso uma causa do sucesso ou apenas uma
consequência?
Voltando, em seguida, o livro trata de uma
matéria que aborda a influência dos fundos de pensão e do BNDES no mercado
financeiro brasileiro. Para quem não sabe, o governo controla quase todas as
empresas privadas do mercado. Até
empresas que você jamais iria imaginar, como as de alimentos, as de plástico e
as de celulose. Bilhões e Lágrimas conta como isso aconteceu e o porquê. Além de
explicar o que é um Banco Central, para que ele serve, o que é o Banco
Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) e a história
do sistema bancário brasileiro.
O livro cita que esse controle do mercado pelos
fundos é uma tendência global. Para justificar o ponto de vista, referencia
o livro norte-americano Os Novos
Capitalistas sobre o controle do mercado financeiro americano por fundos de
pensão (de empresas privadas). Para mim, a grande diferença é que, nos EUA, fundos de pensão de empresas PRIVADAS controlam o mercado. Enquanto
aqui, são os fundos das empresas ESTATAIS (ou seja, o governo novamente) controla. É muito poder para uma máquina corrupta.
Saindo do sistema bancário, Bilhões e Lágrimas também tem uma
reportagem sobre a quebra da Sadia. É revoltante a quantidade de burrices administrativas feita pela
diretoria e a possível má fé do governo. A matéria cita um livro da neta do
fundador da Sadia, Yara Fontana, chamado Como
Fritar as Josefinas. Não resisti.
Já comprei e vou ler em breve.
Logo em seguida, há uma matéria ampla que
cobre toda a questão petrolífera e do Pré-Sal. Aliás, por que ninguém fala mais
do Pré-Sal? Leia Bilhões e Lágrimas e
você entenderá. A matéria faz um explicação clara e sucinta sobre os regimes de
concessão de petróleo e te dá todo o contexto da Petrobrás. Muitas coisas da operação
Lava Jato ficaram claras depois que li essa matéria.
O livro termina tratando da questão do setor sucroalcooleiro
e da Varig, ambos deixados para morrer. Dois episódios revoltantes da nossa
História. Para quem se interessa pelo tema produção de álcool, recomendo também o
livro A Saga do Álcool de J. Natale Netto.
Não estou aqui falando das falhas de um governo
em detrimento do outro. Bilhões e
Lágrimas amplia os horizontes para você ver o contexto como um todo. Numa
linguagem de baixo calão, você verá que o
buraco é muito mais embaixo.
Na introdução de Bilhões e Lágrimas, a autora comenta que nunca pensou
em escrever um livro sobre a economia brasileira, mas, num dado momento, a equipe editorial leu todas aquelas matérias juntas e constatou que nossa história econômica, de 2007 a 2013, estava naquelas páginas. Eles só juntaram e deram o título do
livro igual ao da sua matéria mais relevante. Afinal, parece que alguns bilhões vêm sempre
acompanhados de muitas lágrimas.
Boa semana!
Boa leitura
a todos!
***Sobre demarcação de terras indígenas, assunto do nosso último
post, na última segunda-feira, foram
homologados dois territórios: um em São Paulo e outro em Mato Grosso. Muito barulho pra pouco!***
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