Eichmann em Jerusalém - Um Relato sobre a Banalidade do Mal


 Adolf Eichmann era um cidadão medíocre, sem muitas chances de crescimento na carreira de vendedor de óleo industrial. Até que um amigo o convidou para se filiar ao Partido Nazista um pouco antes do início da Segunda Guerra. Por indicação, Eichmann começou a trabalhar em funções burocráticas. Ele tinha alguns parentes judeus e leu dois ou três livros sobre o judaísmo e sua história. Isso foi o suficiente para o que ele fosse nomeado “especialista” no assunto.


 No começo da guerra, todas as ideias sobre os judeus diziam respeito à expulsão ou à deportação para algum lugar do mundo (até a ilha da Madagascar foi considerada como uma opção). Eichmann e o departamento que chefiava ficaram responsáveis por esses deslocamentos em massa, na maioria das vezes, para campos de concentração para trabalhos forçados. Num momento posterior, chegou a ordem da “Solução Final”, ou seja, que todos aqueles seres humanos fossem levados para execução. Eichmann continuou fazendo o seu trabalho da mesma forma. Ele trabalhava num escritório responsável pelo deslocamento de pessoas, os procedimentos continuaram sendo os mesmos, a diferença era que antes elas iam ser deportadas, agora elas iam ser mortas. Eichmann apenas obedeceu ordens e se preocupou em subir na sua carreira.

 A guerra terminou. Eichmann ficou com medo de ser preso e fugiu para a Argentina. Vários anos depois, agentes do governo israelense o sequestraram nas proximidades de Buenos Aires e o levaram para ser julgado numa corte em Jerusalém. Esse julgamento teve repercussão internacional e a filósofa Hannah Arendt foi para lá, cobrir os fatos.


 Chegando lá, ela não encontrou o gênio do mal, mas apenas uma figura patética, um homem medíocre que apenas obedecera ordens sem nunca desenvolver ideias próprias. Ou seja, qualquer um de nós poderia fazer o que Eichmann fez.

 O livro fornece detalhes precisos sobre como foi a perseguição em cada país da Europa. Muitas vezes são fatos muito pouco conhecidos, por exemplo, que o antissemitismo nunca “pegou” em vários países, como a Bulgária, a Dinamarca, a Bélgica, a Suécia, a Noruega e até mesmo a Itália. E muitos atos de heroísmo individual são mencionados, para ilustrar, o rei da Dinamarca falou que se obrigassem os seus súditos judeus a usarem uma estrela de Davi, ele ia ser o primeiro a colocar uma no manto real, o povo búlgaro aplaudia e fazia manifestações de apoio quando algum judeu aparecia na rua usando a estrela de Davi e  o arcebispo de Berlim pediu para acompanhar os judeus em sua “viagem” para o Leste (o Campo de Extermínio de Auschwitz) e morreu no caminho. Embora o Vaticano nunca tenha se pronunciado oficialmente sobre o fato, é um heroísmo individual louvável.

O livro inteiro contrapõe atos de pessoas que fizeram alguma coisa e os milhões de pessoas que simplesmente aceitaram a “banalidade do mal”. É uma leitura agradável e com conteúdo profundo. Todos deveriam ler Eichmann em Jerusalém, pelo menos, uma vez na vida.

 Para finalizar, transcrevo a parte que mais me impressionou:


 “Pois a lição dessas histórias [um médico que viu milhões de pessoas morrerem e simplesmente deixou isso acontecer porque achava que não poderia fazer nada e  o sargento alemão Anton Schmidt que foi executado por ajudar judeus a fugirem, todas as testemunhas se calaram quando seu nome foi mencionado no julgamento de Eichmann] é simples e está ao alcance de todos. Politicamente falando, a lição é que em condições de terror, a maioria das pessoas se conformará, mas algumas pessoas não, da mesma foram que a lição dos países aos quais a Solução Final foi proposta é que ela “poderia acontecer” na maioria dos lugares, mas não aconteceu em todos os lugares. Humanamente falando, não é preciso nada mais, e nada mais pode ser pedido dentro dos limites do razoável, para que este planeta continue sendo um lugar próprio para  a vida humana.”

 O livro A Comunicação Não Violenta faz uma ponte interessante com Eichmann em Jerusalém. Para os interessados em saber mais, é só clicar no link.

Boa semana a todos!

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