AMSTERDÃ E O BRASIL: HISTÓRIA E LITERATURA
Amsterdã é capital e a cidade mais populosa do Reino dos Países
Baixos. Amsterdã conta com um pouco mais de 800.000 habitantes. O Reino dos Países Baixos é um país soberano desde 2010,
constituído por quatro nações, uma na Europa, também conhecida como Holanda, e três na América Central, Aruba, Curaçao e São
Martinho, também conhecido como Caribe. Amsterdã deriva o seu nome do Rio
Amstel, que corta a cidade. A cidade é circundada por canais que são
considerados Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.
A
ERA DE OURO HOLANDESA E O BRASIL
A Holanda pertencia à Espanha. Em 1578, a burguesia de
Amsterdã, que professava a religião calvinista, declarou sua independência do
império colonial espanhol. Pouco a pouco, os holandeses começaram a investir em
sua frota de navegação e começaram a fazer concorrência com as nações mais
poderosas da época, Portugal e Espanha. Numa manobra inteligente, em 1602, os
holandeses criaram a Companhia das Índias Orientais, a primeira companhia
aberta nos moldes que a gente conhece hoje. Isto é, cujas ações poderiam ser
vendidas na bolsa de valores. Para isso, no mesmo ano, os holandeses também
criaram a Bolsa de Valores de Amsterdã.
E
O QUE ISSO TEM A VER COM O BRASIL?
Um evento histórico que nós estudamos na escola como Invasões
Holandesas no Brasil, na verdade, na verdade, deveria se chamar Invasões da
Empresa Companhia das Índias Orientais, pois foi um evento financiado pelo
capital privado com participação indireta do governo holandês. Essas invasões
se dividem em dois grandes períodos: Salvador (1624-1625) e Recife (1630-1654).
Paisagem no Brasil do pintor holandês Frans Jansz Post exposta no Rijskmuseum em Amsterdã. |
Algumas pessoas defendem que se os holandeses tivessem
permanecido no Nordeste, este seria mais economicamente desenvolvido. É preciso
ser um pouco cético quanto a isso, pois é preciso lembrar que a Indonésia
também foi uma colônia holandesa. Mais do que a cor da pele de uma determinada
cultura é necessário olhar quais foram os princípios que levaram à
superioridade econômica de uma determinada nação em um determinado período. A
Era de Ouro Holandesa foi norteada pelo princípio de tolerância
e respeito às diferenças.
Em Amsterdã, daquela época, viviam os calvinistas (maioria
religiosa), assim como os huguenotes (divergentes católicos fugidos da França)
e os judeus sefaraditas (na sua maioria provenientes de Portugal e Espanha). É
economicamente interessante ser um país tolerante e aberto para outras
culturas, pois essas culturas trazem pessoas trabalhadoras e riquezas. O
filósofo Baruch Spinoza e o rabino Moshe Chaim Luzzato, o Ramchal, viveram em
Amsterdã nessa época. O livro O Caminho
dos Justos do Ramchal já foi comentado no blog, relembre aqui.
Foi essa fórmula, que os holandeses tentaram trazer para o
Nordeste, permitindo a liberdade religiosa. Como havia muitos judeus
convertidos à força ao cristianismo por aqui, os chamados marranos, houve uma
cooperação mútua entre marranos e holandeses. Segundo a professora da
Universidade de São Paulo (USP), Anita Novinsky, em seu livro Os Judeus que Construíram o Brasil
(relembre clicando aqui), essa cooperação é superestimada pelos historiadores
visando a denegrir a imagem dos primeiros brasileiros não nativos.
No Rijskmuseum de Amsterdã, é possível encontrar obras que
retratam cidades e a natureza brasileira pintadas por artistas holandeses
daquela época. O museu inovou ao ser o primeiro a disponibilizar todas as suas
obras online para download. Então
vale muito a pena fazer uma visita, mesmo que seja só ao site.
Para quem se interessa em saber mais sobre o período holandês
no Brasil, um dos maiores historiadores especializados no assunto é Evaldo
Cabral de Mello (irmão do poeta João Cabral de Mello). Entre os principais
livros, estão O Brasil Holandês e O Negócio do Brasil. Para quem se
interessa em saber como ficou a situação dos marranos depois que holandeses
foram embora, vale a pena ler também O
Nome e o Sangue.
OS
BRASILEIROS QUE FUNDARAM NOVA IORQUE
Uma História interessante e que pouco brasileiros conhecem é
que quando os portugueses retomaram Recife, um navio com algumas famílias
partiu em fuga com destino a Amsterdam. No meio do caminho, esse navio foi
atacado por piratas, mas tripulação foi salva por outro navio que os
desembarcou numa ilha espanhola do Caribe. A lei espanhola daquela época ordenava
a execução imediata de não-cristãos (mais um exemplo de como a intolerância não
ajudou o crescimento econômico da Espanha). A Holanda tentou intervir para que
os brasileiros não fossem executados, nesse ínterim, essas famílias conseguiram
fugir num navio que os deixou numa ilha da América do Norte. Naquela época, a
ilha não era nada, hoje nós a conhecemos como Manhattan no coração da
cosmopolita Nova Iorque. Esses brasileiros constituíram a comunidade Nova
Amsterdã, que é considerada a primeira comunidade judaica dos EUA. Mais
detalhes sobre essa fuga milagrosa pode ser encontrado no livro da professora
Novinsky ou para quem lê em inglês no ensaio Origins
of the Jewish Community of New York: the Brazilian Connection (As origens da comunidade judaica de Nova
Iorque: a conexão brasileira).
A
COMUNDADE JUDAICA EM AMSTERDÃ DURANTE A SEGUNDA GUERRA
Amsterdã ficou muito famosa por ser o local de moradia da
menina Anne Frank, que escreveu O Diário
de Anne Frank. Quase todos nós fomos obrigados a ler esse livro na escola.
Inclusive, a Casa de Anne Frank é um museu e ponto turístico da cidade.
Mas existiu uma outra judia holandesa que também morreu num
campo de concentração e escrevia diários, o nome dela era Etty Hillesum. Etty
não é tão conhecida no Brasil como Anne Frank, pois ela já era uma mulher
adulta. Então, seus diários englobam temas polêmicos e tabus para a sociedade
brasileira como a vida sexual. Basicamente Etty Hillesum era uma mulher infeliz
até o início da guerra, quando então ela encontra um homem que se torna algo
como seu guia espiritual, que lhe ensina alguns exercícios e práticas
respiratórias. Etty não fala quais são essas práticas, hoje eu me pergunto se
seria Yoga. E ela vai se tornando cada vez mais centrada e feliz em si mesma,
enquanto simultaneamente a situação vai se tornando cada vez pior para os
judeus ao seu redor (e ela inclusive). Isso é muito surpreendente e demonstra
que nossa paz interior tem muito mais a ver com nós mesmos do que com o que
acontece ao nosso redor. Daqui para frente é spoiler, aqueles que não quiserem ler, por favor, pulem. Mas Etty
Hillesum decide voluntariamente se entregar e acompanhar os judeus até o último
momento no campo de concentração. E até a última carta, horas antes de ser
executada, ela está muito bem.
Etty Hillesum em 1939. |
Algumas citações famosas de Etty Hillesum são:
Para quem quer saber mais, vale a pena conhecer também o Centro Etty Hillesum em Amsterdã, além da Casa de Anne Frank.
"Em última instância, nós só temos uma única obrigação moral: recuperar grandes áreas de paz dentro de nós mesmos, mais e mais paz, e refleti-la para os outros ao nosso redor. Quanto mais e mais paz houver dentro de nós, mais e mais paz haverá em nosso mundo problemático."
"Algumas vezes, a coisa mais importante em todo o dia, é o repouso que nós temos entre duas respirações profundas ou se ajoelhar para uma oração de cinco minutos."
Para quem quer saber mais, vale a pena conhecer também o Centro Etty Hillesum em Amsterdã, além da Casa de Anne Frank.
Muito obrigada a todos(as) vocês que acompanham o nosso
trabalho. Por favor, fiquem à vontade para deixar suas críticas, sugestões e
comentários.
Boa Semana! Boas Leituras!
Comentários
Postar um comentário