QUANTO CUSTOU UM SONHO DE LIBERDADE?
ANTONIO CANDIDO DE MELLO E SOUZA
É com profundo pesar que o blog 500 Livros, começa este post
informando o falecimento de Antônio Cândido de Mello e Souza, no dia 12 de maio desta
semana, aos 99 anos, um dos maiores escritores do nosso idioma. Antônio Cândido
era professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP),
crítico literário e autor de uma vasta obra. Em 1998, foi laureado com o Prémio Camões, a maior premiação para um escritor em língua portuguesa.
Em 2005, ele foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Internacional
Alfonso Reyes, o maior da América Latina.
Nesta entrevista (duração de 5’43’’), Antônio Cândido explana
como a literatura é importante para as nossas vidas, como ela nos transforma e
nos enriquece, e como, lamentavelmente, a desigualdade da nossa sociedade se
mostra também nesse meio. Antônio Cândido explica de um modo simples, cativante
e perfeito, da mesma forma como o mestre literário que ele sempre foi. Vale a
pena assistir!
TREZE DE MAIO E OS ABOLICIONISTAS
Treze de maio foi aniversário de 129 anos da assinatura, pela
Princesa Isabel, da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. Para quem
quer saber mais sobre a vida da princesa antes e, principalmente, depois da
abolição, vale a pena ler a biografia Castelo de Papel da historiadora Mary del Priore. Clique aqui
para saber o que já falamos sobre este livro no blog.
A luta pela abolição da escravatura envolveu vários
escritores, tanto alguns que eram a favor (como Nísia Floresta, Joaquim Manuel
de Macedo, Castro Alves, Joaquim Nabuco), quanto outros que eram contra (como José de
Alencar). Hoje vamos falar apenas dos escritores que lutaram pela liberdade
dos cativos.
Nísia Floresta Brasileira Augusta era o pseudônimo de Dionísia
Gonçalves Pinto (1810-1885). Foi educadora, escritora e poetisa brasileira.
Talvez, a primeira mulher a escrever em jornais no Brasil. Talvez infelizmente
você nunca tenha ouvido falar dela na escola, mas deveria. A qualidade de seus
livros se equipara a de outros grandes nomes da literatura de seu tempo. Entre
suas principais obras estão: Conselhos a
minha filha (1842), Opúsculos humanitários (1853) e A
Mulher (1859). O segundo livro pode ser baixado gratuitamente no Domínio
Público.
Joaquim Manuel de Macedo foi um médico, jornalista, político,
professor e escritor brasileiro (1820 -1882). Ele é mais conhecido por ser
membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e o autor do livro A Moreninha, que já foi adaptado ao
cinema e à televisão. Pouca gente sabe que Joaquim Manuel de Macedo escreveu um livro só sobre a escravidão, chamado As Vítimas-Algozes (1869). Existem algumas edições recentes deste livro, tanto pela
editora Martin Claret, quanto pela Best Bolso, e ele também pode ser encontrado
no site Domínio Público. Esse livro é revolucionário do ponto de vista que ele aborda não apenas
o sofrimento das vítimas, os escravos, quanto o mal que a escravidão causava
aos senhores, os algozes. Não nos enganemos, escravizar e explorar a necessidade do próximo também custa muito caro as nossas famílias e nossos descendentes, que tenderão a se tornar pessoas indisciplinadas, fracas, incapazes, fúteis e de mau-caráter.
Capa da edição de 2012. Editora Best Bolso. |
Falar que Castro Alves (1847-1871) foi um escritor
abolicionista é quase uma redundância. O poeta baiano é mais conhecido por suas
obras em prol da abolição do que por qualquer outra obra. Entre seus livros,
destacam-se Os Escravos (1883), Tragédia no Mar, O Navio Negreiro (1869). Muitas de suas obras podem ser encontradas
no Domínio Público. Para quem quer recordar e chorar com um dos mais emocionantes
poemas do autor, vale a pena dar uma passada no site Portal
Raízes – É Jornalismo. É Cultura.
Além de abolicionistas, o que todos esses escritores mencionados tiveram em comum? Nenhum deles viveu para ver a
libertação dos escravos. Isso mesmo, eles sonharam, motivaram muitas pessoas em
prol de uma causa que era contestada e polêmica na época, lutaram, plantaram as
sementes, mas morreram sem ver a árvore brotar. Provavelmente eles nem se
conheceram pessoalmente, mas nortearam sua vida pelo princípio de justiça e
igualdade entre os seres humanos. Talvez isso nos ensine que sempre é preciso
sonhar e lutar pelo que se acredita!
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife em 1849 e morreu em
Washington, nos Estados Unidos, em 1910. Ele foi um político, diplomata,
historiador, jurista e jornalista. Ele se opunha de maneira veemente à
escravidão e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira.
Entre as frases mais famosas de Joaquim Nabuco, há uma sobre
patriotismo que eu gosto muito:
“O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.”
Talvez sua opinião política contra a escravidão e em prol
da conciliação entre todos os seres humanos tenha lhe custado o amor da sua
vida... Essa é uma
intepretação um pouco “romântica” do nosso blog.
Joaquim Nabuco tinha um relacionamento com Eufrásia Teixeira Leite
(1850 -1930).
Retrato de Eufrásia Teixeira Leite aos 30 anos já bilionária (talvez a primeira do Brasil). |
Eufrásia era uma herdeira de carioca, da cidade de Vassoura, cujo
pai lhe ensinou contabilidade. Uma mulher que sabia matemática financeira naquela
época era um assombro! Depois que o pai morreu, Eufrásia
começou a operar nos mercados financeiros do Brasil e da Europa multiplicando
várias vezes a sua fortuna, se tornando a pessoa mais rica do Brasil e, talvez,
a primeira a se tornar bilionária. E? E, bem, ela também era uma mulher e estava
apaixonada e tendo um romance de vários anos com Joaquim Nabuco. Isso despertou
muita inveja e ia contra os padrões machistas daquela época. Até hoje a gente
encontra pesquisas machistas e enviesadas como essa de que maridos
que ganham menos que suas esposas brocham mais.
Mas, aparentemente, o Joaquim Nabuco não estava brochando, não. E ainda estava provocando e irritando seus colegas políticos por sua luta
engajada contra a escravidão. Entre os opositores, estava o também escritor
José de Alencar. O que ele fez? Possivelmente (essa é a opinião do blog 500 Livros!), jogou com a opinião pública, escrevendo o
romance Senhora (1875). Naquela época romances tinham o poder das nossa
novelas de hoje em dia. Se vocês leram esse livro na escola, devem se lembrar
que o nome da protagonista é Aurélia (igual ao segundo nome do Joaquim Nabuco),
que ela é uma mulher rica que compra um marido fraco e impotente. Não se
enganem, o objetivo dessa obra não era empoderar a mulher, mas fazer piada do
Joaquim Nabuco. Parece que as pessoas da sociedade brasileira chegaram a rir
dele em público por causa desse romance. O relacionamento chegou ao fim e
Eufrásia nunca mais se casou, ao morrer, deixou toda sua fortuna aos pobres e
ao sistema de saúde de Vassouras. Sim, eu acho isso o episódio mais sujo e
podre da nossa literatura e fico indignada que ninguém me contou isso na escola
quando eu tive de ler o romance Senhora.
Capa da biografia de Mundos de Eufrásia. |
Existe uma biografia chamada Mundos de Eufrásia da historiadora Claudia Lage. Ainda não lemos,
mas está no foco. Se você já leu, por favor, deixe seu comentário.
Além de um Império, o amor de uma vida, libertar escravos e
tentar construir uma sociedade onde, de fato, as pessoas tivessem um mínimo de
igualdade custou muito sofrimento a muita gente, principalmente, aos negros,
mas também a muitos intelectuais e visionários de várias etnias e classes
sociais. Lutar por um ideal de igualdade nunca foi (e nunca será) fácil. Mas é
o único caminho que vale a pena!
Muito obrigada a todos e todas que acompanham o nosso
trabalho. Por favor, fiquem, à vontade, para deixar seus comentários, críticas
e sugestões e também curtir a nossa página no Facebook e se manter informado
dos sorteios e promoções.
Por motivo de viagem, não haverá post no domingo do dia
21 de maio. Nosso próximo encontro será no dia 28 de maio, com muitas histórias
e livros para contar! Fé em Deus e pé na tábua!
BOAS LEITURAS!
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