Teresa Filósofa - Manuscrito Anônimo do Século XVIII





Assim são os fracos humanos: a paixão dominante, pela qual cada um é afetado, sempre absorve todas as outras, eles somente agem em consequência dessa paixão, ela os impede de perceber as noções mais claras, que deveriam servir para destruí-la.


Teresa Filósofa é um manuscrito anônimo do século XVIII de conteúdo altamente erótico. A edição mais comum no Brasil tem uma introdução do Millôr Fernandes, que chama o clássico de “sacanagem da boa”. 

Na verdade, é um livro de alto conteúdo filosófico e um romance de iniciação. É uma jovem de classe social mais baixa que perde sua virgindade com um nobre mais velho. Todo o enredo gira em torno das pessoas que ela vai conhecendo, que a introduzem no mundo do erotismo  e do sexo, até chegar ao clímax do romance.

A ideia geral do texto é que tudo é permitido, desde que os personagens não violem as aparências, isto é, as leis sociais.  Teresa sabe que nunca se casará com seu amante, devido a sua posição mais baixa, e é conformada e feliz por servi-lo, sem que sua relação se torne pública. Bem de acordo com a moral da época.

O livro é muito filosófico. Algumas personagens têm falas extensas sobre conceitos abstratos. Há bem mais diálogos do que cenas de sexo. Alguns leitores se perguntam se o livro defende (ou não) o ateísmo. Se necessariamente deveria ser ateu para participar daquelas sociedades, onde o sexo era livre. Não tive essa leitura. O livro contesta os dogmas religiosos vigentes na época, mas ele não contesta uma deidade em si. 
Em sua entrevista, a Prof.ª Dr.ª Eliane Robert Moraes menciona a existência de sociedades secretas libertinas na França do século XVIII. Essas sociedades tinham um vocabulário bem específico em seus textos. Acredito que muito da filosofia em Teresa Filósofa seja para justificar a existência dessas sociedades libertinas, para apaziguar a consciências daqueles que as frequentavam; dar um sentido lógico a tudo aquilo; dizer que, na verdade, apesar de condenados à marginalidade, o que eles faziam, em si, não era uma coisa reprovável.  E talvez, na visão de hoje, não fosse mesmo, mas para a sociedade daquela época era.

Teresa Filósofa é um clássico. E, como todo clássico, merece ser lido. Apesar dos medos que a literatura erótica ainda nos causa.

Bom fim de semana e boa leitura a todos!

Comentários

POSTS MAIS LIDOS

A Personalidade Neurótica de Nosso Tempo - Karen Horney

A SIMETRIA OCULTA DO AMOR - BERT HELLINGER

Psicologia Feminina: A Necessidade Neurótica de Amor

O Caminho dos Justos – Moshe Chaim Luzzatto

Éramos Seis, Irene Ravache, Moçambique e Angola

Daniela e os Invasores - Dinah Silveira de Queiroz

Diamante banhado em sangue, a história do Estrela do Sul

"Sei que muitas vezes eu mesmo fui um obstáculo no meu caminho, mas isso acabou"

Como acabei perdendo meu coração - Doris Lessing (Nobel de Literatura em 2007)