Memórias de Adriano - Marguerite Yourcenar
"A convenção oficial exige que o imperador romano nasça em Roma, mas foi em Itálica que nasci. Foi esse país seco e, no entanto, fértil que sobrepus mais tarde muitas regiões do mundo.
Imperador Adriano A convenção tem a vantagem de provar que as decisões do espírito e da vontade transcendem as circunstâncias. O verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos: minhas primeiras pátrias foram os livros. Em menor escala, as escolas."
Memórias de Adriano é o livro de Marguerite Yourcenar que narra a vida do imperador roma Adriano em primeira pessoa, na forma de cartas para seu sucessor Marco Aurélio.
O livro possui muita precisão histórica e é muito poético. Eu me senti realmente conversando com o imperador Adriano e admirei esse personagem histórico.
Plotina, esposa de Trajano |
Adriano era casado com Sabina, um casamento por conveniência que nunca lhe deu filhos. Além disso teve dois relacionamentos com homens bem mais jovens que se destacaram, um com Lúcio e outro com Antínoo.
Gema com rosto de Antínoo "o único objeto da face da Terra que temos certeza que esteve nas mãos de Adriano." |
Outras passagens marcantes foram a participação (verídica ou não) de Adriano na guerra da Palestina. Lembro de uma consideração de Adriano no texto mais ou menos assim: "Eu fui o mais pacifista de todos os imperadores romanos. Meu governo de 18 anos acabou numa guerra de 4 anos na Palestina que deixou 600 mil mortos. Isso me faz pensar que as guerras nunca terão fim." Um comentário que é bem verdadeiro. Assim como outros que ele faz sobre a arte de governar que podem ser considerados "neoliberais", como o que transcrevo a baixo.
Ruínas de Vila Adriana |
"Nossos comerciantes são, por vezes, nossos melhores geógrafos, nossos melhores astrônomos, nossos mais sábios naturalistas. Nossos banqueiros podem colocar-se entre nossos mais hábeis conhecedores dos homens. Utilizava sua competência; lutava com todas as minhas forças contra a usurpação. O apoio dado aos armadores decuplicou o intercâmbio entre nações estrangeiras; consegui, dessa maneira, aumentar com poucas despesas a custosa frota imperial. No tocante às importações do Oriente e da África, a Itália é uma bela ilha e depende dos corredores do trigo para sua subsistência desde que não é ela própria a fornecê-lo; a única maneira de fazer face aos perigos dessa situação é tratar esses indispensáveis homens de negócios como funcionários vigiados de perto. Nossas velhas províncias atingiram nos últimos anos uma prosperidade passível de ainda ser aumentada, mas o que realmente importa é que essas prosperidade sirva a todos, e não somente ao banco de Herodes Ático, ou ao pequeno especulador que açambarca todo o azeite de uma aldeia grega.
Castelo de Sant'Angelo, túmulo original de Adriano
Nenhuma lei é demasiadamente dura para reduzir o número de intermediários que abundam em nossas cidades: raça obscena e obesa cochichando pelas tavernas, encostada em todos os balcões, pronta solapar toda política que não lhes proporcione vantagens imediatas. Uma distribuição judiciosa dos celeiros do Estado ajuda a conter a escandalosa inflação dos preços em tempos de escassez, mas eu contava sobretudo com a organização dos próprios produtores, dos vinhateiros gauleses, dos pescadores do Ponto Euxino, cuja cota miserável é devorada pelos importadores de caviar e peixe salgado, que engordam à custa dos trabalhos e dos perigos deles.
Um dos meus dias mais felizes foi aquele em que consegui persuadir um grupo de marinheiros do Arquipélago a associar-se em corporação e tratar diretamente com os mercadores da cidade. Jamais me senti tão imperador e tão útil."
Marguerite Yourcenar, pseudônimo de Marguerite Cleenewerck de Crayencour (Yourcenar é um anagrama de Crayencour) foi um escritora belga de língua francesa. Acho que esta é a primeira vez que leio um livro de alguém dessa nacionalidade. Marguerite teve uma educação excepcional, seu pai lhe ensinou latim aos 8 anos de idade e grego aos 12.
Escreveu vários livros, acredito que poucos traduzidos para o português, Memórias de Adriano foi o livro que lhe trouxe reconhecimento internacional. Um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, a autora se mudou para os EUA, onde viveu até sua morte.
Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher a ser eleita para a Academia Francesa de Letras.
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