ONASSIS E A NOSSA INCAPACIDADE DE VER O MAR!
A pirataria da Somália já foi
apontada como um dos melhores modelos de negócio do mundo. Mais ou menos na
mesma época, havia 544 marinheiros (de diferentes nacionalidades) sequestrados
por esses piratas. Um exemplo é retratado no filme Capitão Phillips ( de 2013, com Tom Hanks). A maioria deles trabalhava em
navios com bandeira de conveniências.
O QUE É UMA BANDEIRA DE CONVENIÊNCIA?
As operadoras de transporte de
carga simplesmente compram o direito de usar uma bandeira de um país que não
tenha uma legislação ambiental ou trabalhista. Assim, quando ocorre algum
desastre ambiental ou quando um funcionário é sequestrado por piratas e está
sendo torturado, a empresa simplesmente não precisa fazer nada. Uma vez eu li
em algum lugar, que algumas empresas que prestam serviço para a Petrobrás usam
a bandeira da Libéria, porque esse país não tem legislação ambiental.
Possivelmente, o grande “gênio” a inventar isso foi o armador grego Alexandre
Onassis.
MAS O QUE É UM ARMADOR?
Armador, em marinha mercante, é
o nome que se dá a pessoa ou empresa que, por sua própria conta e risco,
promove a equipagem e a exploração de um navio comercial, independentemente de
ser ou não proprietário da embarcação.
Sua renda provém normalmente da cobrança de frete pelo transporte
marítimo.
AFINAL O QUE TUDO ISSO TEM A VER COM A
GENTE?
Porque nós dependemos
essencialmente do transporte marítimo. Embora o público, em geral, pense em
navegação como algo velho, antiquado e pouco importante, isso não é verdade. Mais de 90% de todos os produtos que nós compramos foram transportados
por navio. A
navegação quadriplicou desde 1970. No entanto, ela se tornou invisível para
nós.
Segundo a palestra de Rose
George, se perguntarmos a uma pessoa na rua se ela conhece a Microsoft, a
maioria das pessoas dirá que sim. Mas se perguntarmos se ela conhece, por
exemplo, a Maersk (apenas uma das inúmeras empresas de
operação marítima) provavelmente ela não conhecerá. No entanto, ambas as
empresas têm o mesmo faturamento anual, algo em torno de 60,2 bilhões de
dólares. Essa nossa cegueira para ver e dar importância a algo tão fundamental
já foi chamada de “cegueira marítima”.
Preocupada em estudar este
fenômeno, Rose George embarcou num navio mercante e ficou vários meses nele.
Ela relata a experiência e aborda várias questões do transporte marítimo na
palestra abaixo (Duração 11:23 minutos com legenda em português). Vale a pena
assisti-la!
AGORA VAMOS FALAR DE LITERATURA!
A biografia póstuma Onassis – Vida, Época e Amores de
Aristóteles Sócrates Onassis do escritor inglês Peter Evans foi
publicada em 1986. Onassis foi um empresário grego, cujo maior negócio foi a
exploração comercial de navios, cuja data de nascimento é desconhecida
(possivelmente entre 1900 a 1906) e que faleceu em 1975.
Capa da edição brasileira de 1987. |
Ele e seu biógrafo são frutos
do seu tempo. O fato de que sua data de nascimento não ser conhecida é porque
ele nasceu em Esmirna, na Turquia. Na adolescência os turcos tiveram um
enfrentamento com os gregos, Aristóteles perdeu muitos membros da família e
teve que fugir para Grécia e depois para a Argentina. Nessas fugas, ele criou
muitos documentos novos e falsos. Ao contrário do que quis parecer, Onassis
nunca foi pobre. Ele nasceu numa família de empresários.
O livro foi escrito há 30 anos.
E algumas opiniões do biógrafo chocam os padrões da nossa época. Por exemplo,
não é possível saber se Onassis realmente fosse antissemita. Talvez ele não
gostasse de judeus, mas ele tinha um senso prático de empresário. Quando foi
necessário negociar com judeus ou usar os seus conhecimentos técnicos, ele usou
sem nenhum problema.
Mas o biógrafo... Ah, o biógrafo! Quando vai descrever a
vida das comunidades gregas na Turquia, menciona que os gregos nunca
desenvolveram uma “psicopatia de gueto” como os judeus, apesar de viverem em
guetos na Turquia. Psicopatia é uma doença mental séria, “descrita como um padrão de alta ocorrência de comportamentos violentos
e manipulatórios, é frequentemente considerada uma expressão patológica da
agressão instrumental, além da falta de remorso e de empatia" (Fonte: Wikipedia). Não se sabe a causa da psicopatia ao certo, mas nenhum judeu se tornou psicopata por ter vivido em um gueto, como autor do livro quer insinuar.
Outro ponto, o biógrafo fala
que o tio Alexandre “salvou” (ele usa
exatamente este verbo) de se tornar afeminado. Só que Onassis era bissexual.
Cerca de dez páginas à frente no livro (depois de ter sido “salvo”), o jovem Onassis estava se
prostituindo para um oficial turco em troca de garantir sua vida. Tem-se a
impressão que o biógrafo superestima as relações heterossexuais de Onassis e
subestima (até mesmo ignora) as homossexuais.
Notam-se os pudores do biógrafo
quando ele descreve Clyde Tolson como o melhor amigo do chefe do FBI John Edgar
Hoover, dentro e fora do departamento. Na verdade, os dois eram casados e isso
é retratado no filme J. Edgar (de 2011, dirigido por Clint Eastwood). E, por
falar em FBI, em alguns momentos, Onassis foi muito favorecido pelo governo norte-americano
nos negócios. É muito difícil acreditar
que ele não fosse um agente do serviço secreto americano. Mas na versão do
biógrafo, não. Todo mundo ao redor de Onassis cooperava com a CIA e o FBI,
menos o Onassis segundo o seu biógrafo. Pode até ser que, em algum momento,
Onassis tenha perdido as graças do Tio Sam, mas ele foi seu protegido por
muitos anos antes.
Mesmo assim, e apesar dessa
visão limitada do biógrafo, vale a pena ler esse livro. Por quê? Porque Onassis
era muito humano. Ele teve momentos de triunfo tanto na parte pessoal quanto
profissional e depois perdeu tudo em ambos. É duro. Mas é um aprendizado
necessário sobre como o poder funciona de fato e como é a vida real (fora do
que a mídia quer nos transmitir).
Uma frase muito impactante
atribuída pelo seu biógrafo a Onassis encerra bem o livro:
“- Não é difícil para um homem fazer fortuna – disse ele. – Mas para que
a fortuna permaneça e aumente, o homem não deve apenas ter herdeiros, ele deve
fazer planos.”
Fazer planos sempre lembra estratégia. Nos próximos posts, falaremos mais sobre isso.
O único filho de Onassis morreu
jovem num acidente aéreo e Onassis teve que conviver com o remorso de não ser
um bom pai. Após o falecimento de Onassis, sua filha amada, Christina Onassis, conseguiu gerir relativamente bem os negócios,
o que surpreendia a sociedade machista da época. Mas Christina parece ter sido
uma mulher profundamente infeliz na vida pessoal. Sua única filha, a amazona
Athina Onassis (atual única descente viva de Onassis) morou no Brasil e foi
casada com o brasileiro Álvaro de Miranda Neto.
Antes de falecer, Onassis se
casou com a ex-mulher de John Kennedy, Jaqueline Kennedy. Mas o casal não teve
filhos. Para quem quiser refletir mais sobre poder e dinheiro e reveses da
vida, fica a dica de filme Grey Gardens (de 1975)
sobre duas primas de Jaqueline (uma mãe e uma filha) que não conseguem gerir
seus investimentos, quebram e vão viver juntas na miséria (fatos reais).
Muito obrigada a vocês que nos
acompanham sempre. Por favor, fiquem à vontade para deixar suas críticas,
comentários e sugestões. Acompanhem nossa programação também na nossa página do
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