O MEDO NÃO É UM PARTIDO POLÍTICO
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa
alemã de origem judaica, ela é considerada uma das mentes mais influentes do século XX. Em 1941, Arendt foi trancada no campo de concentração de Gurs. Ela conseguiu fugir e partiu
para os EUA com a ajuda de um amigo jornalista. Trabalhou lá em diversas
editoras e organizações judaicas. Em 1963, foi contratada como professora
na Universidade de Chicago. Em 1967, ela foi contratada como pesquisadora do
instituto The New School for Social
Research. Lá ela trabalhou até sua morte, devido a um ataque cardíaco, em
1975.
Arendt dedicou sua vida a
pesquisar a natureza do poder e seus sujeitos políticos, direito à democracia,
autoridade e totalitarismo. Hoje existe o Prêmio
Hannah Arendt, dedicado a pesquisadores que lutam contra regimes
totalitários. Também existe o Centro de Pesquisas Hannah Arendt. [2]
Hannah Arendt: afetos e desafetos
intelectuais
A mulher que mais
influenciou Hannah Arendt foi a, também filósofa ,Rahel Varnhangen (1771-1833).
Hannah costumava descrevê-la como “minha melhor amiga, embora tenha morrido
séculos antes do meu nascimento.”. Hannah Arendt escreveu uma biografia de
Varnhange, não traduzida para o português, intitulada: Rahel Varnhangen: the life of a Jewsess.
Retrato de Rahel Varnhangen, filósofa que influenciou Hannah Arendt. Retirado da Wikipédia. |
No livro, As Origens do Totalitarismo, Arendt
descreve Varnhangen assim:
“Sua inteligência original, inconvencional
e pura, aliada ao interesse pelas pessoas e à natureza genuinamente apaixonada,
fez dela a mais brilhante e a mais interessante das grandes damas judias.”
Hannah Arendt foi
contemporânea de Golda Meir, primeira ministra de Israel (confira e biografia
de Golda, clicando aqui).
Mas, elas não eram admiradoras uma da outra. Sobre Meir, Arendt descreve: “Meu
problema era simplesmente como fazer aquela ministra de relações exteriores
calar a boca e ir dormir.”. Hannah Arendt depois escreveu que Golda Meir lhe
dissera que não acreditava em Deus, mas, sim, no povo judeu. Isso deixou Hannah
chocada:
“A grandeza do povo
judeu é que eles, uma vez, acreditam em Deus, e acreditaram nele com tal
intensidade que sua confiança e amor superaram o medo.”
E acrescentou:
“E agora as pessoas
acreditam em si mesmas? Ao que isso vai nos levar?”[1]
As Origens do Totalitarismo:
Antissemitismo, Imperialismo, Totalitarismo
As
Origens do Totalitarismo é considerada a principal obra de
Arendt. O livro faz parte das metas de leitura de 2017. A editora Companhia das
Letras tem uma edição, lançada em 2013, traduzida por Roberto Raposo, de 832
páginas. O número de páginas intimida um pouco a leitura. Mas é possível
dividi-la. Cada uma das três partes do livro (Parte I – Antissemitismo, Parte
II- Imperialismo, Parte III – Totalitarismo) foi escrita em uma época diferente
e pode ser lido como um livro à parte. Cada uma tem seu próprio prefácio, por
exemplo. O prefácio de Antissemitismo é datado em 1950, o de Imperialismo em
1974, o do Totalitarismo em 1966.
Para facilitar a leitura dos
posts, publicaremos um post sobre
cada parte (alternando com outras leituras). Antes de terminarmos por hoje,
compartilho alguns vídeos do professor Leandro Karnal que poderão ajudar a
compreender a leitura.
O primeiro vídeo (Duração 1
min e 38 seg.) é a resposta à pergunta O
que é fascismo? E como ele se disfarça nos dias de hoje? dada no Jornal da Cultura.
O segundo vídeo é mais longo
(Duração 15 min e 35 seg), mas destaca-se a frase dita em 9 minutos e 30
segundos:
“Classe média e classe
baixa em risco de desemprego ou de redução de consumo são o público alvo, por
excelência, de qualquer projeto fascistas.”
(Leandro Karnal)
Essa frase tem muito a ver com
o que Hannah Arendt explana, mostrando que todos os partidos, de todas as
ideologias ("direita" e "esquerda"), exploraram o medo da classe média (médio do desemprego, da violência, do "comunismo", do terrorismo, do muçulmano, do diferente, etc.) para criar
regimes totalitários. Isso lembra muito o pensamento do general alemão Hammerstein-Equord, o único alto oficial alemão que se opunha publicamente ao Hitler. O general incentivava seus filhos e filhas a terem um pensamento político independente dizendo:
"O medo não é um partido político."
(General Hammerstein-Equord, 1878-1943)
Muito obrigada a todos(as)
que acompanham o nosso trabalho. Por favor, fique à vontade para deixar seu
comentário, sua crítica ou sugestão. Informamos que nosso próximo post será
lançado no final de semana do dia 25 de fevereiro.
Boa
semana! Boas Leituras!
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