Virgínia Woolf Essencial

Nascida Adeline Virgínia Stephen em 1882, Virgínia Woolf foi uma escritora, ensaísta e editora britânica. Adotou o sobre nome Woolf, após casar-se com o intelectual judeu Leonard Woolf. O pai de Virgínia também era um editor consagrado, desde jovem, ela já manifestou raro talento literário. Ela enfrentou vários problemas mentais e crises esquizofrênicas durante toda vida, que culminaram no seu suicídio em 1941. Coincidentemente seu marido morreu alguns meses depois, vítima de um derrame.

É muito citado o fato de Virgínia Woolf tentar ler um livro em uma biblioteca universitária, em 1929, e ser impedida, porque mulheres eram  proibidas de ler em universidades na época. Indignada, ela voltou para casa e escreveu o ensaio Um Teto Todo Seu. A frase mais famosa deste livro é Uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu, se ela quiser escrever ficção. Virgínia era bissexual e manteve vários casos também com mulheres. Talvez por causa disso, ela seja considerada uma leitura “feminista”. Infelizmente isso pode afastar alguns leitores no Brasil. Na Alemanha, Virgínia Woolf é leitura obrigatória para o ensino médio. Seus textos geram reflexões profundas em todos os leitores, independentemente de convicções pessoais.

Li três de suas obras na ordem inversa que foram escritas: Orlando (1928), Passeio ao Farol (1927) e Mrs. Dalloway (1925). Percebe-se claramente uma evolução da escrita e do estilo, culminando em Orlando. Mesmo assim, Mrs. Dalloway é uma obra que também vale a pena ser lida. Ela foi recentemente lançada na Coleção da Folha de São Paulo e está disponível online no site Lê Livros.

Mrs. Dalloway é um romance que se passa num único dia da protagonista homônima, Clarissa Dalloway. Ela é uma senhora de meia idade, organizando uma festa no fim do dia. O estilo de Virgínia Woolf é único na combinação entre pensamento de personagens e a realidade, com um forte teor autobiográfico. O personagem Septimus, que também sofre de esquizofrenia, possivelmente seja a própria autora. No prefácio da edição online, Virgínia menciona que Septimus não existia na primeira versão do livro. Ela começou a escrevê-lo e ele “tomou” uma parte essencial da estória. O nome Septimus me fez lembrar o personagem Setembrini do romance alemão A Montanha Mágica, publicado no mesmo ano, 1924. Segundo o comentarista da Coleção Folha, Mrs. Dalloway se passa num único dia devido a uma clara influência do romance Ulysses de James Joyce, autor consagrado que Woolf publicava.

Aparentemente Virgínia ainda é uma autora insegura quando escreve Mrs. Dalloway, buscando referenciais externos. Mas já mostra traços da sua genialidade única. Compartilho aqui alguns trechos da obra, para conhecermos um pouco do estilo:


“Havia o Regent’s Park. Sim. Quando criança passeava no Regent’s Park – esquisito, pensou, como continuam me voltando memórias de infância – consequência de ter visto Clarissa, talvez; pois as mulheres vivem muito mais no passado do que nós, pensou. Elas se apegam a lugares; e os pais – uma mulher sempre tem orgulho do pai.”

Regent's Park, Londres.

“(...) tentando fingir, como a maioria das mães, que as coisas são o que não são. Ela confia demais no seu encanto, pensou. Abusa dele.”

“Mesmo assim, o sol era quente. Mesmo assim, a gente superava as coisas. Mesmo assim, a vida arranjava um jeito de somar um dia atrás do outro. Mesmo assim, pensou bocejando e começando a perceber – o Regent’s Park não tinha mudado quase nada desde que era menino, a não ser pelos esquilos (...)”.


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Bom fim de semana! Boas leituras!

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