Os judeus que construíram o Brasil
Os judeus provavelmente chegaram em
70 d. C.1 em Portugal e lá viveram por mais de mil e quinhentos anos. Na
Idade Média, os muçulmanos invadiram a Península Ibérica (atual Portugal e
Espanha) e instalaram um regime de governo chamado califado.2
Segundo as autoras do livro Os judeus que construíram o Brasil, os
muçulmanos permitiam a liberdade religiosa. Durante vários séculos, a península
foi um lugar onde as três grandes religiões monoteístas (islamismo, judaísmo e
cristianismo) conviveram pacificamente. Durante o Califado de Córdoba (século X
e XI), as comunidades judaicas alcançaram seu maior esplendor. Nesse período,
viveu o grande mestre Maimônides4, considerado um dos maiores
rabinos de todos os tempos. O autor brasileiro Moacyr Scliar afirma que o
sobrenome brasileiro Mendes pode significar “aquele que descende de Maimônides.”5
Entre os possíveis judeus, há inclusive Cristóvão Colombo.6
A situação mudou drasticamente
quando a Espanha conseguiu expulsar os muçulmanos (também chamados de mouros)
da península. Instaurou-se um governo católico. Para garantir que todos os
súditos eram católicos, usou-se a Inquisição.
Os judeus, chamados também de
marranos, fugiram para diversas regiões. Entre elas, o Brasil. Num grupo tão
numeroso, houve judeus que, de fato, se converteram ao cristianismo, houve os que
abandonaram totalmente quaisquer crenças religiosas e passaram a fingir que eram
cristãos e houve os que nunca se converteram, aceitaram o catolicismo da porta
para fora, mas, dentro de casa, continuaram a praticar a religião judaica. Mas
todos os grupos eram suspeitos perante os tribunais da Inquisição. Até padre
António Vieira7, religioso e intelectual brasileiro, foi acusado e
processado pelo crime “terrível” de defender judeus brasileiros.
Os inquisitores chegaram ao Brasil,
prenderam, torturaram e queimaram centena (talvez milhares) de pessoas vivas.
Isso destruiu famílias e, talvez, moldou muitas características da sociedade
brasileira. Essa História quase nunca é mencionada nos livros didáticos. As
autoras de Os judeus que construíram o
Brasil tiveram acesso aos processos
inquisitoriais do Brasil e recontam parte dessa tragédia esquecida.
Seguem algumas passagens do livro:
“A conversão forçada dos judeus portugueses
ao catolicismo (1497) mudou sua visão de mundo.”
“Para entender o mundo dividido em que
passaram a viver os judeus convertidos, é preciso mergulhar na história,
compreender o que significava para eles morar em uma terra que consideravam sua
pátria, que amavam, descende de portugueses judeus que a habitavam há mais de
quinze séculos e, repentinamente, serem considerados estrangeiros e proibidos
de habitá-la.”
“Em Portugal, a conversão dos judeus ao
catolicismo não os tornou iguais aos cristãos nem lhes conferiu os mesmos
direitos. Uma nova discriminação e um novo modelo de antissemitismo aflorou,
não mais contra os judeus, mas contra os convertidos.”
“A palavra “marrano” é tradicionalmente
empregada pela maioria dos historiadores no sentido de criptojudeu, isto é, um
converso que simula ser cristão, mas não abandona sua fé.”
“Entre os marranos, criptojudeus, nasceu um
sentimento de culpa por viverem como cristãos e idólatras. No judaísmo, o valor
supremo é a vida e deve-se usar de todos os meios para mantê-la, mesmo que seja
necessário mentir e dissimular.”
“A vida judaica no Brasil, como em
Portugal, tinha de ser clandestina.”
“Certamente é difícil compreender o mundo
em que viviam os cristãos-novos e os marranos, dentro de uma “cultura de
segredo”, uma sociedade, na qual, todos dissimulavam e todos sentiam-se
inseguros.”
O que você achou? Por favor, fique
à vontade para deixar seus comentários (críticas, dúvidas e sugestões).
Boas leituras! Bom fim de semana!
Quer saber mais?
1 Consulte Judeus em Portugal
na Wikipédia.
2 Consulte califado na Wikipédia.
3 Consulte Califado de
Córdova na Wikipédia.
4 Consulte Maimônides na Wikipédia.
5 Consulte o
livro A Estranha Nação de Rafael Mendes
de Moacyr Scliar.
6 Consulte Teorias
sobre a origem de Cristóvão Colombo na Wikipédia.
7 Consulte António Vieira na
Wikipédia.
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