Brasilionários: os Poderosos Chefões do Brasil Moderno
Brazillionaires: the
Godfathers of Modern Brazil
(Brasilionários: os Poderosos Chefões do
Brasil Moderno, tradução livre) é o livro do jornalista norte-americano
Alex Cuadros, lançado em 2 de junho de 2016. Ele é o mais vendido da Amazon
Brasil, nas classificações Sociedade e
Ciências Sociais, Criminologia e Ensaios e Viagens. Na Amazon mundial,
ele está entre os 10 mais vendidos, nas classificações Desenvolvimento & Crescimento, Globalização, Classe.
Alex
Cuadros estava fazendo mochilão pela América do Sul, em 2010, quando foi
chamado para trabalhar na Bloomberg
de São Paulo. A Bloomberg é a maior
agência mundial de notícias financeiras.
Ele aluga terminais de notícias (computadores com senhas especiais) para
seus clientes, fornecendo análises, notícias e dados financeiros exclusivos. O
departamento, onde eu trabalho, dispõe de um terminal. Segundo o autor, o
aluguel custa 24.000 dólares por ano e ele trabalhou de um projeto de visava a
criar uma lista de bilionários mundiais, equivalente à lista da Forbes. O
usuário Bloomberg digitaria RICH e
pressionaria Enter para ver a lista
atualizada em tempo real. Tentamos fazer isso, mas não funcionou. Talvez porque
nosso acesso não é pleno ou porque o projeto não deu certo.
Alex
Cuadros entrevistou e traçou o perfil de diversos bilionários brasileiros.
Alguns, segundo ele, “escondidos” e discretos. Há muito tempo, eu gostava de
ler livros jornalísticos. Com a
maturidade, tornei-me crítica desse gênero, pois, vejo autores que enfatizam os
pontos negativos, não propõem nada de novo (exceto o censo comum) e isso vende.
No caso de Brazillionaires (uma
palavra inventada da junção de Brasileiros
e Bilionários), o leitor fica com a
impressão que o Brasil é uma terra de
macacos sem lei. Gostando ou não, isso forma a opinião pública
internacional. E justificaria uma
intervenção internacional. Um país que não é capaz de se autogerir (na visão
internacional) poderia ser administrado por uma nação internacional. É uma perspectiva ameaçadora.
Voltando
ao livro, entre os bilionários investigados, o autor dedica a maior parte do
livro ao Eike Batista. Ele começa o texto narrando o acidente de Thor, que
causou a morte de um ciclista, e dedica os três últimos capítulos do livro
quase exclusivamente a vida de Eike. Na minha opinião, ele superestimou
(intencionalmente ou não) a influência de Eike na economia brasileira. Além
disso, o autor também descreve empreiteiras e esquemas, como a Odebrecht. Segundo ele
próprio, Cuadros contribuiu para mostrar os bilionários “escondidos” da família Odebrecht. Eu ficarei mais satisfeita com um
jornalismo investigativo de figuras políticas como Delfim Netto
e Armínio Fraga
(naturalizado norte-americano), que, de fato, poderiam ser bilionários
escondidos. Das figuras políticas, Cuadros só expõe o Maluf (que não é nenhuma
novidade). Ele também visita os bilionários produtores de soja no Mato Grosso: Blairo Maggi, atual
Ministro da Agricultura, e Otaviano Pivetta, atual prefeito de Lucas do Rio
Verde. Não pareceu surpreendente.
Ele
visita a construção da usina de Belo Monte, expondo suas contradições (ela só
se paga se for construída mais uma barragem). Pensando agora, acredito que essa
visita fuja da temática central do livro. Pois ela não contribuiu para definir
o perfil de nenhum bilionário brasileiro. É só um fato conhecido e polêmico no
exterior. Ou seja, vende.
Depois,
o autor traça um perfil da família Marinho na mídia, seu poder e sua influência
política. Em seguida, passa para o Edir Macedo, fundador da Igreja Universal,
sua influência religiosa e política (até aqui nenhuma novidade). Depois ele
passa para o banqueiro Jorge Paulo Lemann. Ele cita explicitamente o livro Sonho
Grande, o texto de Cuadros parece um resumo do livro da jornalista Cristiane
Correa, pouquíssimos acréscimos.
O
autor gasta menos de três linhas descrevendo uma visão mais positiva de vários
empresários brasileiros, como o fundador da Natura, a criatividade da família
Moreira Salles e Setúbal, o fundador do laboratório Aché (nem me lembro o nome
dele). Cuadros quase escreve diretamente “esses
caras são bons, vou ignorá-los.”. E gasta páginas e mais páginas falando de
figuras icônicas do Brasil corrupto. Como se isso, e apenas isso, representasse
o País.
Ao
fim, ele explana um pouco sobre o mito dos bilionários, como projetamos nossos
sonhos neles. Sobre o mito dos
empreendedores, dos self-made men
(homens feitos por si mesmos, sem ajuda de ninguém) e como isso raramente
acontece. Na prática, muitos tomadores de risco nasceram com acesso à boa educação
e bons contatos. Mais uma vez, ele não foge ao senso comum. Não dá pra ganhar o
prêmio Pulitzer
com isso.
Cuadros
descreve sua participação em passeatas, panelaços,
rolezinhos e todos os movimentos
sociais do Brasil entre 2010 e 2016. Ele
fala pouco da política em si, exceto algumas ligações com empreiteiras. A visão
do autor é que a Lava Jato, caso condene políticos, será um marco na História
brasileira e ele termina o livro alguns dias antes do impeachment da Dilma. Ou seja, nada de revelador. Vale a pena ler esse livro apenas para
saber o que os gringos estão falando
do Brasil no exterior e estar preparado para responder, caso alguém questione.
Sacrifícios da modernidade.
O que eu aprendi com essa leitura?
1.
Aprendi várias expressões em inglês. Entre elas, as mais interessantes:
to elope:
deixar o lar secretamente para se casar com alguém sem a permissão dos pais.
Sim, os ingleses têm um verbo só pra isso.
tithe:
dízimo. Jamais procuraria essa palavra no dicionário.
tenant:
arrendatário. Alguém que paga usar um determinado meio de produção, com, por
exemplo, uma fazenda. Lembrando que tenente em inglês (a patente militar) é lieutenant.
backlash:
um sentimento forte entre um grupo de pessoas, devido a reação contra uma
determinada mudança na sociedade ou na política. Algo como, comoção nacional. Achei engraçado, os
ingleses têm uma palavra só pra isso.
2.
Aprendi que existe um site chamado Glassdoor.com. É possível
procurar empregos no Brasil por meio dele. Pra quem está procurando um
trabalho, vale a pena tentar.
3.
Aprendi que Mubadala
é o nome do escritório de investimentos estatal dos Emirados Árabes Unidos. Ele
faz investimentos, ao redor do mundo, com os excedentes do petróleo. Para o
pequeno investidor, parece não ser interessante investir em algo que esse
escritório também esteja. Até agora, o histórico não foi positivo.
4.
Aprendi que nós, brasileiros, acreditamos no mito do homem branco trabalhador. Na
mitologia brasileira, todo homem branco
é trabalhador. O autor sugere que nós admiramos Eike, por sua mãe ser alemã, e
Lemann, por ser suíço. Eles se encaixam na nossa crença.
Bom fim de
semana!
Boas
leituras!
Comentários
Postar um comentário