a máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mãe
a máquina
de fazer espanhóis foi uma
recomendação de um leitor do nosso blog.
É de autoria do escritor português, nascido em Angola, Valter Hugo Mãe.
O protagonista, um silva, é um senhor octogenário que perde a esposa. Logo em
seguida, é mandado, pelos filhos, para um asilo, o feliz idade. Nas
considerações finais, o autor declara que escrevera este livro pensando em seu
pai, que não pôde chegar à terceira idade. Hugo Mãe se considera próximo à
terceira idade, embora tenha apenas 44 anos.
É genial como um autor ainda tão jovem
conseguiu entrar na pele de um octogenário e na rotina de tantos idosos, suas
alegrias, tristezas, amores, sonhos, anseios, angústias e limitações. O estilo
de Hugo Mãe lembra o de Saramago, parágrafos longos sem letras maiúsculas. A
leitura é fluida e tocante.
Além disso, o autor aborda, de maneira sutil, o
período da ditadura de Salazar em Portugal. Descreve como atos tão fáceis e
simples podem ser revistos durante o envelhecimento, trazendo nova
interpretação e nova carga emocional. Essa é uma das partes mais tocantes para
mim.
Compartilho alguns trechos do livro, entre eles,
começo pela descrição dos moradores do feliz idade:
pouco importava
que o orgulho lhes trouxesse ao de cima o passado profissional, mais ou menos
brilhante, mais verdadeiro ou mentiroso, porque muitos mentem sem pudor para
não se deixarem humilhar, pouco importava tudo isso porque na extremidade da
vida eram todos a mesma coisa, um conjunto de abandonados a descontar pó ao
invés de areia na ampulheta do pouco tempo.
Ao descrever Américo, um enfermeiro engajado em
sua atividade profissional:
o
américo não é habilitado por escola
nenhuma senão pela do coração, estudou pela amizade e compaixão os modos de
acudir aos outros, faz no lar o que fazem os enfermeiros também, mas com um
acréscimo de entrega que não se exigiria, naquele primeiro contacto fiquei
convencido de que não poderia ser impostor com ele.
Uma frase logo do início que vai se nortear
todo o texto é:
o
amor é para os heróis, o amor é para o heróis,
Além de:
a
vida tem destas coisas, quando não esperamos mete-nos numa grande história,
A leitura de livros modernos tem me levado a
refletir sobre temas inéditos, como aborto e envelhecimento. Embora esses
fenômenos sempre existissem, é a primeira vez que encontro na literatura. Este ano,
li A Distância entre Nós, que trata
de um aborto, e agora leio a máquina de
fazer espanhóis, um livro tocante sobre o envelhecimento. Por que a nossa literatura
está mudando? Ou seria a nossa sociedade que muda como um todo? Fique, por
favor, à vontade para deixar seu comentário e ponto de vista.
Para os leitores que se interessam por livros
ambientados durante ditaduras (tanto semelhantes em países latinos), recomendo Estrela
Distante do escritor chileno Roberto Bolaño.
Boas
leituras e ótima semana a todos!
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