O Mito do Desenvolvimento Econômico - Celso Furtado (Parte I)
“O Mito do Desenvolvimento Econômico” é um livro escrito pelo famoso
economista brasileiro Celso
Furtado, em 1981. Furtado, entre muitas outras realizações, foi a primeira
pessoa a ocupar a pasta de Ministro do Planejamento no nosso País e sua obra
mais famosa é “Formação Econômica do Brasil”.
Li “Formação Econômica do Brasil” quando tinha uns 15 anos. A mãe da
minha melhor amiga era cabeleireira e tinha um monte de livros no salão, a maioria autoajuda. Minha amiga e eu lemos todos. Até que o último era esse de economia. Eu
levei para casa e comecei a lê-lo. Foi o primeiro livro técnico e o primeiro
livro com mais de 300 páginas que li na vida. Foi muito difícil, mas achei o tema muito interessante.
O autor teve
acesso a um gigantesco banco de dados sobre muitos aspectos da nossa economia
para escrever esse livro histórico. Por exemplo, uma informação, que eu
nunca esqueci, foi que a expectativa de vida de um escravo norte-americano era
três vezes maior que a de um escravo brasileiro. Porque, nos Estados Unidos, eles trabalhavam
majoritariamente na lavoura, enquanto, no Brasil, teve o ciclo do ouro, em
Minas Gerais, e os escravos foram direcionados para ficar dentro de minas
insalubres extraindo minérios. Eles morriam muito rapidamente.
Voltando ao “Mito
do Desenvolvimento Econômico”, meu tio resolveu desfazer-se da biblioteca dele e
me deu esse livro. Vou relatar, nos próximos posts, como foi ler Celso Furtado com mais maturidade e conhecimento econômico.
Agora quero mostrar que o livro, em
si, já é um objeto histórico. Na contra capa dele, tem a biografia de Furtado,
dizendo que ele foi “paraibano, um pracinha da Força Expedicionária Brasileira”
(querendo significar que ele era pobre , um menino batalhador), logo em seguida
que fez “doutorado em Paris e estagiou
nas melhores universidades da Inglaterra” (que pobre podia fazer doutorado em Paris e estagiar na Inglaterra naquela época?). Acho um pouco irônico o fato de que, no Brasil, os ricos gostarem de “parecer pobre” ou terem que “pedir
desculpas” por ser rico. Não seria simplesmente mais fácil diminuir as
desigualdades?
Abrindo o livro, você acha outro
fato histórico na orelha. Entre os lançamentos da mesma editora na época está o
livro “Acumulação Monopolista e Crises
no Brasil” do Guido
Mantega e Maria Moraes. Guido Mantega, décadas depois, virou o nosso
Ministro da Fazenda. E, considerando a
carreira posterior dele, é muito engraçado que ele tenha escrito um livro contra o capitalismo.
Procurei por
Maria Moraes na internet, mas não encontrei. É lamentável que o autor tenha se
tornado Ministro e a autora seja simplesmente esquecida. Possivelmente ela veio
a se casar e adotou o nome do marido, passando a se chamar Maria Werneck de
Castro, militante comunista, amiga de Carlos Prestes. Mas não tenho certeza
se essas duas mulheres sejam, de fato, a mesma pessoa. O único jeito de saber, é perguntar pro
Mantega. Mas acho que essa não é uma obra que ele se orgulha muito.
Outro fato menos histórico e mais
íntimo é que eu achei um marcador de página com uma dedicatória para o meu tio.
E fiquei imaginando histórias de amor e desilusões... Risos.
Vocês também param para imaginar a
história dos livros? Quem leu aquele livro antes de vocês? Quem vendeu? Como
era a loja? Como todas as pessoas o leram e se relacionaram com ele durante
tantos anos? Quais eram as emoções envolvidas?
Bom fim de semana a todos.
Até
nosso próximo encontro!
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