A Globalização é Inevitável?
1. Conceitos:
Globalização é um termo com significados diferentes para políticos, empresários, sociólogos, etc.
Para os economistas, globalização significa "integração de mercados". E ela está longe de ser uma invenção dos nossos tempos.
Integração de mercados é a fusão de muitos mercados em um só.
Num certo mercado, um produto tem um preço único. Por exemplo, o tomate tem o mesmo preço em vários bairros de uma mesma cidade. Portanto, essa cidade faz parte do mesmo mercado.
Se o preço do tomate fosse significativamente mais barato num bairro da cidade, os verdureiros transportariam seu produto para as regiões onde o tomate fosse vendido mais caro ( isto é, com maior lucro) e os preços voltariam a se igualar.
Por outro lado, o preço do tomate na cidade de São Paulo, pode ser diferente do preço do tomate em Curitiba. O alto custo do transportes e outras despesas (como impostos, por exemplo) inibem o transporte do tomate de um mercado para o outro. Ou seja, em mercados diferentes, o preço de um mesmo produto pode ser diferente por um longo período do tempo.
A integração global de mercados implica a eliminação das diferenças de preços entre países, pois todos os mercados tornam-se um. Um modo de acompanhar o avanço da globalização é ver a tendência de convergência (semelhança) de preços nos países.
2. Contexto Histórico:
O comércio internacional de longas distâncias existe há vários séculos antes de Cristo. Essa troca de mercadoria aumentou com o crescimento e enriquecimento da população. Mas as barreiras comerciais que dividem os mercados permaneceram praticamente as mesmas.
A globalização só decolou mesmo a partir de 1820, quando uma revolução nos transportes ( a invenção do navio a vapor, da ferrovia, da refrigeração, etc) fez o preço dos produtos diminuir.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a economia internacional era bastante integrada, mesmo para os padrões dos dias de hoje, com fluxo de capital e mão de obra sem precedentes.
Nos tempos modernos, a mais surpreendente reversão da globalização, provocada por políticas, ocorreu na Grande Depressão dos anos de 1930. Os EUA aprovaram a tarifa Smoot-Hawley que aumentou a alíquota de impostos sobre bens importados. Essa tarifa reduziu a procura por produtos importados. Outros países reagiram, impondo tarifas semelhantes. O resultado foi o colapso do mercado mundial, que intensificou os efeitos da Depressão. Foram necessários 30 anos para economia mundial se recuperar completamente.
3. Integração:
Hoje, os mercados são mais integrados do que nunca, pois os custos de transporte continuam a cair e maioria das tarifas foi eliminada.
Uma previsão do futuro da globalização envolve a eliminação de outros tipos de barreiras ao comércio causadas por diferenças institucionais entre os países.
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Para saber +!
O economista norte-americano Douglas North definiu instituições como "as restrições criadas pelo homem para dar forma às interações humanas". Essas restrições são "as regras do jogo" e se mostram no aspecto formal ou informal. As restrições formais são as regras arraigadas na lei e na política de cada país, e as restrições informais, os códigos, os costumes e as tradições sociais, por exemplo, o famoso "jeitinho brasileiro".
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Os mercados são sujeitos às instituições. Por exemplo, o Brasil e a China podem ter legislações diferentes sobre o não pagamento de uma dívida. Isso pode inibir uma empresa chinesa a negociar com Brasil, devido às dificuldades, caso haja um processo judicial.
A integração plena exige a eliminação de diferenças legais para criar espaço institucional único.
Alguns economistas dizem que esse processo está em curso e é inevitável.
4. Globalização x Democracia:
O economista turco Dani Rodrik criticou essa visão de "integração profunda" da globalização. Segundo ele, ela é indesejável e está muito longe de ser inevitável.
Imagem que ilustra o trilema de Rodrik |
O ponto de partida de Rodrik é de que as opções sobre a globalização estejam sujeitas a um "trilema" político. Nós queremos a integração de mercados pela prosperidade que ela traz; também queremos democracia e uma nação soberana e independe.
Mas com a globalização, apenas duas dessas opções são possíveis ao mesmo tempo. A solução do trilema implica em formas diferentes de globalização.
O trilema vem do fato de que uma integração profunda de mercados requer a remoção das variações institucionais entre países. Mas cada eleitorado quer tipos diferentes de instituição.
Por exemplo, os europeus preferem um Estado mais assistencialista (focado no bem-estar público da população) que os norte-americanos. Então "globalizar" significa ignorar as preferências de alguns desses países. Isso entra em conflito com a democracia e já foi chamado de "camisa de força de ouro".
Hoje estamos bem longe da "camisa de força de ouro", pois os Estados são fortes, e a persistente diversidade institucional entre países indica que as preferências variadas de populações diferentes importam.
Portanto a globalização pode, sim, ter limite, e este talvez seja que a fusão completa das economias não é factível nem, afinal, desejável.
Mas com a globalização, apenas duas dessas opções são possíveis ao mesmo tempo. A solução do trilema implica em formas diferentes de globalização.
O trilema vem do fato de que uma integração profunda de mercados requer a remoção das variações institucionais entre países. Mas cada eleitorado quer tipos diferentes de instituição.
Por exemplo, os europeus preferem um Estado mais assistencialista (focado no bem-estar público da população) que os norte-americanos. Então "globalizar" significa ignorar as preferências de alguns desses países. Isso entra em conflito com a democracia e já foi chamado de "camisa de força de ouro".
Hoje estamos bem longe da "camisa de força de ouro", pois os Estados são fortes, e a persistente diversidade institucional entre países indica que as preferências variadas de populações diferentes importam.
Portanto a globalização pode, sim, ter limite, e este talvez seja que a fusão completa das economias não é factível nem, afinal, desejável.
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Este post foi baseado nas páginas 206, 207 e 228 a 231 de O Livro da Economia.
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Muito obrigada e até sexta!
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