Relendo O Mandarim de Eça de Queiroz

 Li este livro na adolescência e não me lembrava absolutamente nada. A edição que eu tenho em casa é muito antiga, nem tem data de publicação. E eu a "ilustrei" quando era criança.



 Pelas informações que constam no prefácio, o escritor português Eça de Queiroz tinha vendido os direitos de publicação em folhetim de um romance que ele estava escrevendo, "Os Maias". Ele precisou de mais tempo para desenvolver o romance, então escreveu a novela fantástica "O Mandarim" gratuitamente para o jornal. Assim ele ganhou mais tempo para trabalhar na sua obra principal.
Eça de Queiroz foi embaixador de Portugal em Cuba, lá ele teve contato com vários imigrantes chineses que viviam em estado semelhante à escravidão. Acredita-se que foi esse episódio que inspirou a novela "O Mandarim".



 A história é narrada em primeira pessoa, pelo protagonista, Teodoro, um funcionário público com uma renda modesta. Teodoro tem o hábito de comprar partes de romances descontinuadas e lê-las à noite na pensão onde ele mora. Uma noite, ele começa a ler um capítulo chamado Brecha das Almas. Neste capítulo ele encontra a seguinte passagem:



 No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver; e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro.
Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?



 Teodoro tem momentos de hesitação. O demônio aparece e tem um diálogo com ele. Por fim ele toca a campainha e o mandarim Ti-Chin-Fu morre na China. Teodoro se torna infinitamente rico, muda completamente de vida, mas é atormentado pelo remorso de ter matado um mandarim. Ele sempre tem alucinações com a imagem do corpo morto de Ti-Chin-Fu. Toda a novela trata das coisas que Teodoro faz para tentar atenuar a culpa. Gosto especialmente da seguinte parte:



 Eu pertenço à burguesia; e sei que se ela mostra à plebe desprovida um paraíso distante, gozos inefáveis a alcançar -
é para lhe afastar a atenção dos seus cofres repletos e da abundância das suas searas.



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